segunda-feira, 16 de novembro de 2020

OS NOVOS DADOS CONCELHIOS DA DGS

 


(A DGS publicou finalmente os dados de casos confirmados COVID-19 por concelho, fazendo-o na perspetiva dos valores observados de 28 de outubro a 10 de novembro. Espera-se que o modelo de publicação ganhe alguma estabilidade, coisa que não tem acontecido e já agora a informação publicada podia ser mais útil. Explicarei porquê.

A publicação de dados concelhios pela DGS tem-se transformado numa saga. Assumiu primeiro, já lá vai muito tempo, a modalidade diária que a própria Direção-Geral se encarregou de recomendar cautela para a sua leitura. Depois passou à variante semanal de valores acumulados de casos confirmados, o que obrigava cada leitor assíduo como eu a uma trabalheira infernal, colocar a informação numa folha EXCEL e depois calcular a variação semanal. Depois, mais recentemente, hibernou durante algum tempo, sendo avisados de que seria publicada informação de novos casos por 100.000 habitantes para assegurar a conformidade com a metodologia europeia de definição de territórios críticos (maior ou igual a 240 novos casos nos últimos 14 dias por 100.000 habitantes).

 


Hoje, finalmente, foi publicada tal informação com uma particularidade. O quadro apresenta o número de novos casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias (de 20.10 a 10.11) e o intervalo em que se situa esse valor de suporte a um mapeamento por cor de taxa de incidência de novos casos. Resultado da modalidade escolhida: se o leitor pretender conhecer o número de novos casos neste período é obrigado a fazer o cálculo inverso da taxa por 100.000 habitantes, ou seja tem de conhecer a população residente em 31.12.2019 que não é publicada no Boletim.

Perguntar não ofende: custaria muito publicar duas colunas, a que apresenta a taxa de incidência de novos casos por 100.000 habitantes (o que é feito) e a que documentaria o número de novos casos absolutos nesse período (que não é feito?). Claro que não custaria rigorosamente nada e a informação seria muito mais rica.

Exigência gratuita? Não, nem por sombras, sobretudo por duas razões:

  • Primeiro, os valores superiores a 240 novos casos por 100.000 habitantes configuram um universo muito diferenciado, que só se compreende bem quando se conhece o número absoluto de novos casos; ora como o leitor comum não conhece de cor as diferenças de massa demográfica tem, por exemplo dificuldade em compreender as diferenças entre os concelhos por que me distribuo – Caminha tem 970 casos por 100.000 habitantes e Vila Nova e Gaia 878 novos casos.
  • Segundo, a opção de reservar a segunda coluna para o intervalo de incidência situa o leitor na conclusão de que o seu concelho está ou não entre os concelhos críticos a que se aplica as medidas excecionais hoje consagradas, mas não lhe explica de que modo o seu concelho aparece no vermelho de risco.

O mapa que resulta dos dados hoje publicados para o limiar crítico dos 240 novos casos por 100.000 habitantes tem uma coloração preocupante sobretudo a norte, com a novidade da região Centro aparecer agora também substancialmente representada. Fiz um exercício simples de sistematização de informação por NUTS III e calcular para cada NUTS III o número e % de concelhos que não estão integrados na zona crítica. Os casos de maior densidade de situações não críticas são os seguintes:

  • A Região do Oeste com 75% (9 em 12) de municípios abaixo do limiar dos 240 novos por 100.000 habitantes;
  • A região de Leiria com 80% (8 em 10) de municípios;
  • A região do Médio Tejo com 62% (8 em 13) de municípios;
  • A região do Baixo Alentejo com 69% (9 em 13) municípios;
  • A região do Alto Alentejo com 53% (8 em 15) municípios;
  • A região do Douro com 37% (7 em 19) municípios.

As NUTS III do Oeste e da Região de Leiria destacam-se claramente, apesar da sua relativa proximidade à aglomeração de Lisboa, embora não podendo ser consideradas desertos demográficos.

Como nota final e tendo em mente as múltiplas intervenções que se têm escutado de autarcas de municípios com baixa densidade a reclamar contra a sua inclusão no intervalo crítico apesar do reduzido número de surtos observados, pode dizer-se que a baixa densidade lhes pregou de novo uma partida e das boas. Quando poderiam a estar a tentar capitalizar o baixo número absoluto de casos observados, não sacrificando a sua débil economia local ao confinamento, eis que senão quando um número reduzido de surtos face à sua muito reduzida massa demográfica os transporta para valores elevados de novos casos por 100.000 habitantes. Veja-se por exemplo o caso das Beiras e Serra da Estrela com apenas 3 municípios a escapar a esse limiar crítico. Imagino que os surtos em lares tenham desequilibrado o registo.

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