(É de ténis que falo e da final do ATP Finals em Londres e particularmente da final entre Medvedev e Thiem, não esquecendo as meias entre o primeiro e Nadal e entre o segundo e Djokovic. É um prazer assistir lentamente a uma mudança geracional desta envergadura ...)
O ténis é daqueles desportos que permite no circuito mundial de elite a coexistência entre a velha e a nova geração. A tenacidade e resistência que são necessárias para, dada a metodologia com que é seriada a posição no ranking mundial dos atletas, a velha guarda se manter e a nova emergir e trepar pela classificação mundial só está ao alcance de verdadeiros eleitos. As características físicas e psicológicas com que essa tenacidade e resistência são construídas são de uma exigência tal que os dois processos, a resistência dos mais velhos e a ascensão dos mais novos, constituem casos de estudos notáveis da capacidade humana de vencer desafios.
Não escondo que a minha referência é Federer, pelo estilo, pela perfeição, pelo rigor de um atleta aparentemente sem empatia, mas quantas vezes fico empolgado pela força mental do Djokovic e pela espantosa intuição na força do Nadal. Foi sempre assim com as gerações anteriores. Tendia para o Borg ou para o Stefan Edberg mas a persistência do Sampras e o génio criativo do Agassi sempre me empolgavam.
Nos tempos atuais, creio que o declínio de Federer é irreversível, apesar do seu rigor comportamental extra-desporto e por isso, por agora, Nadal e Djokovic vão ainda disputar a liderança por algum tempo. Mas a nova geração está aí, Medvedev, Tsitsipas, Zverev e um que já não é propriamente novo Dominic Thiem vão inapelavelmente começar a trepar e a consolidar as suas posições no ranking mundial.
O Masters de Londres cuja final aconteceu hoje entre as 18 horas e o princípio da noite foi uma bela metáfora da coexistência mas também da transição geracional que se anuncia no ténis mundial. Foi-o sobretudo pelas meias finais, com Medvedev e Thiem a despacharem Nadal e Djokovic, mas sobretudo pela espantosa final de hoje. Ninguém imaginaria que, após o insuperável primeiro set de Thiem, ele pudesse perder o jogo. Mas perdeu, devido sobretudo a uma espantosa resistência mental de Medvedev, um jogador de estatura elevada mas franzino, que acabou por superar a tremidela do austríaco.
A final ofereceu-nos jogadas infindas com a beleza da esquerda em força a uma mão de Thiem a deslumbrar e um jogo de esquerdas em slice dos dois tenistas que passam a constituir um verdadeiro manual de diversidade dessa pancada para iniciado aprender.
A nova geração encanta e progride de modo consistente e sustentado para o topo.
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