domingo, 15 de novembro de 2020

EREVAN-BAKU E ANCARA-MOSCOVO

Consumou-se há poucos dias um “cessar-fogo” na guerra reaberta em finais de setembro no Cáucaso (entre a Arménia e o Azerbeijão) em torno do enclave do Alto Karabakh. Um assunto que se me tornou especialmente caro, e bem mais percetível, depois de uma incursão pela Região que em boa hora concretizei anos atrás. Para quem privilegia resultados puros e duros, sempre direi que o Azerbeijão terá vencido em toda a linha, recuperando a integralidade dos sete distritos que reclamava como ocupados pela Arménia. Para quem também atende a outros resultados, a perda de milhares de vidas (ainda indeterminada) foi um custo não desprezível (sobretudo devido à inexperiência do pós-revolucionário governo arménio de Nikol Pachinian, no poder há dois anos). Para quem pretende ver para além do mais imediato, ou seja num plano geoestratégico, o que ali se passou correspondeu sobremaneira a mais uma fase de uma terrível disputa pela hegemonia (regional e não só) entre a Rússia e a Turquia, tendo Ancara tido um papel decisivo no apoio militar ao Azerbeijão (e assim procurado reconfirmar o seu pretendido estatuto imperial) e tendo Moscovo logrado manter uma presença incontestável e de comando em espaços pós-soviéticos (vejam-se a deslocação de uma força de interposição russa para controlo militar de cinco anos que decorre do acordo assinado e, de passagem, a consequente acalmia dos ânimos libertadores que pululavam na Arménia). Em todo este quadro, a diplomacia europeia ficou mais uma vez amplamente fora de jogo.

(Paresh Nath, https://www.cagle.com)

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