sexta-feira, 27 de novembro de 2020

LOGÍSTICA

 

(Crónica um pouco anárquica ditada pela mudança de ares e pela contemplação da paisagem ribeirinha noturna, com vários temas e sobretudo o alívio de que, nos últimos 14 dias, Caminha melhora significativamente o seu rácio de novos casos por 100.000 habitantes e apresenta uma redução percentual com algum significado desses novos casos. Oportunidade para refletir sobre alguns temas da época, como a logística, o risco de entrarmos numa “civilização Zoom” e a continuidade da incompetência comunicacional em matérias sérias...)

Mudo de ares e o Expresso on line anuncia-me boas novas comparando a evolução dos novos casos entre 10 e 23 de novembro com a última publicada pela DGS que respeitava aos 14 dias de 6 a 19 de novembro. Eu sei que tudo indica que o pico da segunda vaga terá sido esta semana ultrapassado (especialistas das Faculdades de Ciências de Lisboa e do Porto), mas o problema decisivo estará na velocidade e rapidez com que a desaceleração vai acontecer até que o famigerado R desça abaixo de 1.


(Região Norte - Novos casos por 100.000 habitantes entre 10 e 23 de novembro, segundo o Expresso on line)

O mapa acima dos novos casos por 100.000 habitantes mostra Viana do Castelo, Caminha e Vila Nova de Cerveira no escalão dos 480 aos 960 novos casos por 100.000 habitantes, permanecendo apenas Valença na faixa de risco mais elevado. O mapa abaixo mostra Caminha já na senda da redução percentual de novos casos. A proibição nos próximos quatro dias das deslocações interconcelhias, apesar de ter as exceções conhecidas, tenderá a evitar que essa tipologia de contactos comprometa as melhorias reveladas pelos mapas do Expresso, que imagino antecipem a divulgação de dados da DGS na próxima segunda feira.

 


(Região Norte - redução percentual dos novos por 100.000 habitantes entre 10 e 23 de novembro, segundo o Expresso on line)

Neste contexto contemplativo dá para pensar no furacão logístico e digital que esta Black Friday terá representado. Informação vinda das bandas de Espanha dá-me conta que em cerca de oito meses o número dos utilizadores de Internet terá aumentado em mais de 1 milhão, com a curiosidade de terem sido os mais de 45 anos a internalizar mais rapidamente essas novas rotinas de consumo. A adaptação da produção, da distribuição e das grandes marcas não pode dissociar-se do incremento poderoso das atividades logísticas, em que a possibilidade que é dada ao consumidor de rastrear a evolução da distribuição da sua encomenda com um grau de rigor apreciável (comunicação quase ao minuto de que a encomenda vai ser entregue ou possibilidade de ajustamento da data e hora de entrega) já releva do mundo da logística e não da produção. A outra face da moeda é obviamente a queda brutal do retalho, que se reinventa como pode nas ondas da proximidade e que provavelmente incorporará o grupo de perdedores desta brutal e acelerada mudança que a pandemia nos trouxe.

E se tivermos em conta que a Black Friday antecipa o Natal, não será difícil concluir que o impulso logístico digital fechará o ano de 2020 em crescendo e vertigem.

Um Natal para o qual me preparo que seja mais triste e diferente, provavelmente passado a dois, sem aquela efervescência contagiante dos netos, primeiro pelo reencontro das brincadeiras e depois pela excitada curiosidade das prendas. Muito possivelmente um Natal de Zoom, embora com bacalhau, com ou sem instabilidade de rede, culminando a forçada da mudança civilizacional do “face to face” digital e muito provavelmente com alteração radical dos modelos, tempos e deslocações de trabalho, de troca de conhecimento, de debate e de novas lógicas de trabalho colaborativo e de grupo.

 

Nestas coisas os Americanos mandam e a McKinsey brinda-nos com cálculos pressupostamente rigorosos do potencial de digitalização do trabalho em inúmeras atividades. Tudo indica que estaremos perante um novo marco do tempo e da aceleração social (AZ, antes e depois de Zoom e quejandos): “O Zoom não é apenas um serviço. É um pontapé de saída para o nosso futuro maioritariamente visual, em que a realidade, os écrans e o software se combinam perfeitamente. Ele ajudou a fortalecer a ideia de supressão das fronteiras, uma ideia que emergiu a partir do meu amigo Pip Coburn. As fronteiras foram criadas em torno de espaços físicos – escolas, salas de conferências, escritórios, consultórios médicos – todos eles são agora linhas efémeras na areia[1]

Uma última reflexão sobre a estupidez comunicacional que tem predominado em tudo que diz respeito à pandemia e que lamentavelmente se estendeu à questão da vacinação e da infernal questão da sua distribuição. Quem terá sido o inteligente que se terá lembrado de “verter águas” cá para fora, anunciando que os mais de 75 anos não seriam vacinados dado o não demonstrado efeito da vacina nesse grupo etário? Claro que Primeiro-Ministro e Secretário de Estado da Saúde se viram forçados a declarar-se incomodados com essa possibilidade e lá se vai a coerência e eficácia da futura comunicação a sério. Para além disso, a nebulosidade está instalada quando alguém fala em farmácias para assegurar uma das vertentes da distribuição.

Se a Black Friday de hoje terá sido um dos mais significativos impulsos da logística digital do nosso tempo, a distribuição da vacina ou vacinas será para mim o principal problema logístico em Portugal a resolver. O tempo não estará para amadores. Venham os especialistas.

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