domingo, 22 de novembro de 2020

RESTRINGIDO!

 

(Não é de bom tom publicar mapas com intervalos de restrição para os concelhos sem os acompanhar dos valores de base que conduziram à sua distribuição pelos intervalos. A Direção-Geral de Saúde está claramente a patinar nesta nova onda e carece de flexibilidade para a cavalgar em boas condições. Mas não é pior ...)

O mapa não engana, os tempos são de restrição de circulação. Vila Nova de Gaia e Caminha, por razões diferentes, estão pintados a encarnado sobrecarregado, o que anuncia para a próxima quinzena, incluindo feriados e pontes, reservas especiais de circulação. Lá terei que programar com mais cautela e pormenor as minhas deslocações entre as duas casas para diversificar o confinamento. Restringido, mas convencido, embora admita que possa haver pormenores de concretização mais discutíveis, por exemplo decretar tolerâncias de ponto e suspensão de atividade letiva e não ser mais rígido na ideia de confinamento. Mas do ponto de vista geral as decisões tomadas estão em linha e não será seguramente a imbecilidade diletante de uma Raquel Varela, a negar evidência científica dos efeitos do confinamento de março e abril que me leva a pensar o contrário. Vozes de imbecis diletantes, qualquer que seja o género, não chegam a lugar nenhum até porque muita pouca gente lhes dedica atenção, numa proteção saudável anti-ruído que eu próprio aprendi a cultivar já há algum tempo.

O primeiro-Ministro esteve globalmente bem na sua comunicação explicativa das restrições que vão vigorar. Claro que me custa ver um primeiro-Ministro obrigado a apanhar as canas de um foguetório provocado por uma comunicação desajeitada de um estudo (Ó Deus, até o Henrique Barros foi seduzido pela sereia da falsa simplicidade!). Dúvidas sobre o risco da restauração na disseminação de contágios e uma extrapolação desajeitada, que daria em condições normais chumbo científico, de resultados para justificar o ensino presencial nas Universidades, como se o problema fosse o das salas de aula, e não a mobilidade inter-concelhia que o ensino universitário exige. Um estudo que foi “tão bem comunicado” que ainda não se percebe bem se a população em estudo foi a dos estudantes universitários ou um território. Por isso, António Costa apagou e bem as canas do foguetório, evidenciando finalmente o princípio da cautela e da prudência.

Claro que os jornalistas presentes na sala, já influenciados pelo efeito Chega e quejandos, queriam ver sangue em relação à restauração, a partir dos resultados do tal estudo. Não o viram, se ficaram dececionados o problema é deles, porque o primeiro-Ministro desmontou e bem essa perversa e recente defesa da restauração, com uma comunicação sensata e a devida contextualização do estudo atrás referido.

O mesmo se diga em relação ao próximo congresso do PCP em Loures, toda aquela malta presente na conferência de imprensa esperava o clímax de uma condenação de Costa à teimosia revelada pelo PCP. Em vão, porque o primeiro-Ministro distinguiu implicitamente entre o enorme erro político do PCP em insistir na realização do congresso e a sua cobertura legal. Não tenho dúvidas em considerar que o PCP comete um dos grandes erros políticos na legalidade e será provavelmente prejudicado nas urnas, pois não me parece que seja beneficiado com decisões que estão em linha com os propósitos mais assanhados dos libertários negacionistas. Esse casamento não é sequer um casamento de conveniência para o PCP, é muito provavelmente uma decisão que delapidará ainda mais o seu capital eleitoral em perda e isso não é positivo para a barragem às frentes de direita inorgânicas e oportunistas que irão emergir nos tempos futuros.

Entretanto, o PSD arranjou a bonita com a sua repentina perceção da proximidade ao poder. Não interessa saber quem comanda o mimetismo, o PSD e o Chega têm aproximado objetivamente posições e é espantoso que o consulado de Rui Rio na Câmara Municipal do Porto ainda constitua o seu principal capital curricular, reconhecido por gente como Paulo Baldaia que de subtileza e inteligência jornalística tem, aliás, muito pouco. É paradoxal mas tenho para mim que as principais características de afirmação política de Rui Rio, como por exemplo, o seu pragmatismo, a sua rejeição e incompatibilidade com as elites culturais e políticas, o seu estilo de argumentação, a sua por vezes insensibilidade social e sociológica, a sua pouco elaborada cultura política, que pormenorizam a sua afirmação como político honesto, são presa fácil para um discurso populista inteligente e perverso. Oxalá me engane. Não é por acaso que Pacheco Pereira, um dos racionalizadores da política de Rio na cidade do Porto (principalmente da sua cruzada contra a permeabilidade entre a CM e o futebol) já tenha percebido esse risco. E há uma outra evidência que convém não perder de vista. As vozes e pensamento no interior do PSD (tipo Jorge Moreira da Silva) que se podem opor a esta deriva que Rio pode imprimir ao partido são gente que não necessita do poder para bem sobreviver e afirmar-se na sociedade. Em contrapartida, se recordarmos a composição da equipa que rodeia Rio na liderança atual, rapidamente perceberemos que é gente que não pode estar muito tempo longe do poder, sobretudo quando os tentáculos do Bloco Central estão fragilizados.

E o efeito pavloviano dos aromas que decorrem da proximidade ao poder é contundente. Como veremos nas cenas dos próximos episódios. A seguir com atenção e nem precisamos de trailers apelativos.

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