quinta-feira, 12 de novembro de 2020

DESCUBRA AS DIFERENÇAS

Tal como a língua portuguesa, frequentemente acusada de ser muito traiçoeira, o mesmo acontece com os números e respetiva manipulação (sob as mais diversas formas). A coisa ocorreu-me ao ler a última coluna de José Manuel Fernandes (JMF) no “Observador”, um texto intitulado “Não, dr. António Costa, a culpa não é dos portugueses” cujo conteúdo argumentativo não pretendo aqui discutir hoje (a matéria, aliás, está no centro do furacão, tantos são os que acusam o Governo e os que o defendem, os que apontam o dedo à DGS e à Ministra da Saúde e os que as consideram protagonistas de um desempenho quase heroico, os que se tornaram arautos de planeamentos à outrance e os que se resignam ao desenrascanço como resposta a instâncias públicas depauperadas e envelhecidas, os que falam com algum conhecimento de causa e os que só mandam bitaites).


Porque o meu ponto é outro e assenta numa afirmação de JMF, quase a abrir, do seguinte tipo: “Os números para Portugal são neste momento dos piores do mundo desenvolvido no que se refere a infeções registadas (como se prova no gráfico abaixo [no caso, o gráfico acima reproduzido]) – ora, dei-me ao trabalho de ir consultar a fonte do dito gráfico (“Our World in Data”) e não só constatei que a informação publicada estava correta (à data, claro) como também percebi que a amostra escolhida por JMF (cinco países, incluindo Portugal, mais Europa) era notoriamente enviesada em desfavor de Portugal; para o demonstrar, sugiro que comparem aquele gráfico (onde Portugal surge na pole position dos piores em termos de novos casos confirmados por milhão de pessoas, numa base de média móvel de sete dias) com o que abaixo reproduzo (assente exatamente na mesma informação mas alargando a amostra daqueles seis casos a outros seis adicionais, a saber: França, Itália, Suíça, Suécia, Polónia e República Checa) e no qual o nosso país passa de campeão da desgraça para um mais indiferenciado meio de tabela. Não nos precipitemos, pois, porque é tudo, ou quase tudo, uma questão de perspetiva! [mesmo quando se concorda, como eu concordo, que “a culpa não é dos portugueses”].

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