sexta-feira, 4 de maio de 2012

A OUTRA TROIKA


Decorreu hoje, em encontro à porta fechada na Cidadela de Cascais, mais um Conselho para a Globalização, uma iniciativa promovida pela COTEC Portugal e patrocinada pelo Presidente da República. É obviamente útil e inquestionavelmente muito positivo debater ideias em torno da promoção de Portugal no estrangeiro e reunir personalidades com envolvimento em diferentes países, designadamente empresários e gestores portugueses ou com fortes ligações a Portugal. Pelo menos em abstrato…

Já em concreto, e embora não seja conhecido todo o detalhe do programa e do desenvolvimento dos trabalhos, é confrangedor o teor do que as reportagens dos nossos órgãos de comunicação social informam sobre o que por lá se ouviu aos nossos três mais reconhecidos políticos da atualidade, os quais tendem crescentemente a constituir-se como que numa espécie de versão doméstica dos célebres “marretas”.


Descobriu Cavaco neste seu roteiro de segundo trimestre de ano bissexto: “O País só poderá encontrar uma trajetória de crescimento económico sustentável através de uma aposta no reforço dos fatores de competitividade, na conquista de novos mercados e na melhoria do conhecimento da realidade portuguesa no exterior. E é precisamente aqui que o contributo da diáspora – o vosso contributo – poderá ser decisivo.” Radicalmente inovador!

Explicou Passos guiado pela sua visível estratégia de valorização da força de trabalho nacional: “Em Portugal durante muitos anos falou-se de um modelo de crescimento que se verificou foi demasiado caro para o País e conduziu o País a uma pobreza que nós agora estamos a procurar inverter. Um modelo de crescimento assente em baixos salários e em dívida insustentável não é um modelo de crescimento, é um modelo de empobrecimento.” Em nome de uma qualquer verdade!

Receitou Durão insuflado da autoestima europeia que lhe caíu no colo: “Como se nós portugueses tivéssemos pouca confiança nas nossas capacidades. Ora, nada justifica que assim seja. E se me permitem, eu gosto sempre de citar o caso de Cristiano Ronaldo e de José Mourinho que são portugueses que seguramente não têm problemas de autoconfiança. Julgo que precisávamos talvez de alguma maior confiança na afirmação dos portugueses no mundo.” Um homem de ciência e cultura!

Enfim, um País que tem hoje duas troikas: a do protetorado, em mau modo tecnocrático, e esta novíssima, em bom modo provinciano. Quanto aos portugueses, não sabendo o que fazer, vão-se perguntando atrás da canção “se é melhor amar as duas, sem nenhuma perceber”…

Sem comentários:

Enviar um comentário