terça-feira, 8 de maio de 2012

TATEANDO SOBRE CERTEZAS


O gráfico acima provém de um artigo recente de Claire Jones, Ralph Atkins e Robin Harding no “Financial Times”. E cumpre aqui dois objetivos essenciais: primeiro, o de sublinhar a enorme amplitude das intervenções levadas a cabo por três dos mais importantes bancos centrais à escala internacional desde o advento da crise financeira (2008), sendo de reter nesse quadro a maior contenção relativa do BCE face ao FED e ao BoE mas também o gigantismo do seu balanço (quase 3 biliões de euros, equivalentes a cerca de um terço do PIB total da Zona Euro); segundo, o de sublinhar a improvável reversibilidade desta mudança quantitativa e qualitativa em qualquer modelo que venha a desenhar-se para uma saída sustentada da crise.

Vale isto por dizer que poderão estar definitivamente em causa – até onde (grau) e com que tipos de “checks and balances” (natureza) é uma questão ainda por responder… – algumas das visões que pontuaram ao longo de todo o período que precedeu a crise, sejam elas as de uma focagem tendencialmente exclusiva da autoridade monetária numa meta de política económica tida por determinante/exclusiva (a estabilidade dos preços), as da independência incondicional dos bancos centrais em relação ao poder político ou as de uma irredutível excecionalidade de qualquer pró-atividade nos mercados (designadamente de dívida soberana) ou instrumentalização estratégica.

Mas contrariar o reducionismo das perspetivas mais conservadoras e ultra-liberais que imperaram no passado recente e conduziram à desregrada autonomização da finança e à manifestação dos seus desestabilizadores impactos não significa prescindir do rigor ou trilhar caminhos dominados pelo mero facilitismo. Dito de outro modo, as correções de trajetória e as mudanças necessárias não poderão ir ao ponto de servirem de pretexto a que políticos imprudentes se deixem tentar pela ideia de transformarem os bancos centrais em “universal problem solvers”. Como em quase tudo na vida, o equilíbrio também é um valor a defender…

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