O gráfico acima provém de um artigo recente de Claire Jones, Ralph Atkins e Robin
Harding no “Financial Times”. E cumpre aqui dois
objetivos essenciais: primeiro, o de sublinhar a enorme amplitude das
intervenções levadas a cabo por três dos mais importantes bancos centrais à
escala internacional desde o advento da crise financeira (2008), sendo de reter
nesse quadro a maior contenção relativa do BCE face ao FED e ao BoE mas também
o gigantismo do seu balanço (quase 3 biliões de euros, equivalentes a cerca de
um terço do PIB total da Zona Euro); segundo, o de sublinhar a improvável
reversibilidade desta mudança quantitativa e qualitativa em qualquer modelo que
venha a desenhar-se para uma saída sustentada da crise.
Vale isto por dizer que poderão estar definitivamente
em causa – até onde (grau) e com que tipos de “checks and balances” (natureza) é
uma questão ainda por responder… – algumas das visões que pontuaram ao longo de
todo o período que precedeu a crise, sejam elas as de uma focagem
tendencialmente exclusiva da autoridade monetária numa meta de política
económica tida por determinante/exclusiva (a estabilidade dos preços), as da
independência incondicional dos bancos centrais em relação ao poder político ou
as de uma irredutível excecionalidade de qualquer pró-atividade nos mercados
(designadamente de dívida soberana) ou instrumentalização estratégica.
Mas contrariar o reducionismo das perspetivas mais
conservadoras e ultra-liberais que imperaram no passado recente e conduziram à desregrada
autonomização da finança e à manifestação dos seus desestabilizadores impactos
não significa prescindir do rigor ou trilhar caminhos dominados pelo mero facilitismo.
Dito de outro modo, as correções de trajetória e as mudanças necessárias não poderão
ir ao ponto de servirem de pretexto a que políticos imprudentes se deixem
tentar pela ideia de transformarem os bancos centrais em “universal
problem solvers”. Como em quase tudo na vida, o equilíbrio também é um valor a
defender…
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