terça-feira, 12 de junho de 2012

AINDA A EVOLUÇÃO DO CRÉDITO

(Banco de Portugal)
| Nota de Informação Estatística | Lisboa, 22 de maio de 2012 |

Já aqui repetidas vezes sublinhei o fator crucial da evolução do crédito como elemento chave de monitorização da transição penosa e complexa em que a economia portuguesa está mergulhada por força do resgate financeiro.
O problema central da economia portuguesa não será provavelmente um problema de crédito, como um abespinhado Fernando Ulrich clamava há umas semanas.
O problema central é seguramente o da mudança do seu modelo de crescimento em plena consolidação de contas públicas e com a desalavancagem do setor bancário à perna. E nesta mudança a evolução do crédito torna-se crucial, pois a estrutura de financiamento do setor empresarial português não pode inverter-se por magia de um momento para o outro, fazendo emergir quer a hipótese de um segundo mercado bolsista ou um pujante processo de geração de “private equities”. A dependência do financiamento empresarial do crédito bancário não pode ser escamoteada e uma revolução sistémica como a anteriormente referida exige uma trajetória incremental, com uma espessura de tempo considerável.
Em linha com esta preocupação, o Banco de Portugal começou no seu Boletim Estatístico de maio a divulgar informação sobre empréstimos concedidos pelo setor financeiro residente às empresas privadas exportadoras.
Esta informação é vital para compreender se há evolução tendencial em curso na afetação do crédito em ambiente de desalavancagem do setor bancário, embora seja de estimar uma longa transição nesta matéria, pois o peso do setor transacionável na afetação de crédito ao setor não financeiro parte de valores extremamente elevados.
Assim, num ambiente global de taxas de crescimento negativas do crédito às empresas não financeiras, a taxa de variação homóloga dos empréstimos concedidos pelo setor financeiro residente ao setor exportador tem caído, embora ainda se mantenha positiva (de mal o menos). No fim do 1º trimestre de 2012, o setor exportador absorvia 12.9 % do total do crédito concedido pelo setor financeiro residente às empresas não financeiras. 
 
O Boletim Estatístico do Banco de Portugal publica ainda dois indicadores, o rácio de crédito vencido e a percentagem de devedores com crédito vencido (ver gráficos acima) que evidenciam uma maior resiliência do setor exportador.
Que o setor exportador era resiliente já o sabíamos. Mas a transição de que falávamos anteriormente é bem mais complexa e penosa do que essa resiliência. O comportamento futuro dos novos indicadores agora publicados regularmente pelo Banco de Portugal permitirá monitorizar essa transição. Mas a degradação da situação internacional, com um submarino em trajetória de afundamento (capa desta semana do Economist) como metáfora dessa degradação, pode hipotecar a referida resiliência. Como diz o Economist, continuamos dependentes da lucidez global (Please can we start the engines now, Mrs Merkel?).

1 comentário:



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