Regresso às metáforas futebolísticas. E seguramente não é
orgulho “lampião” a vir ao de cima. Na verdade, os dois “heróis” deste post,
Santos e Karagounis, passaram pela instituição, um foi mal tratado, outro
provavelmente mal integrado ao serviço de uma estratégia coletiva, revelando por
isso fragilidades da organização. Não, não é seguramente por esse motivo. Mas o
futebol tem destas coisas. Ontem, voltámos a ser todos gregos, porque metaforicamente
se confrontavam naquele terreno dois símbolos: um país instável e em
dificuldades, mas soberano e solidário contra uma velha Rússia, mas uma Rússia
especial – afinal a primeira seleção que resulta do ressurgimento económico em
forma de capitalismo de estado, visível no também ressurgimento económico dos
seus principais clubes e consequentemente uma seleção não feita da diáspora,
mas de jogadores na liga nativa.
E como dizia pertinentemente Freitas Lobo, nem sempre a
melhor e mais poderosa seleção ganha, ainda por cima orientada pela cultura de
jogo holandesa. O que está por detrás da seleção grega não é simplesmente uma
coragem indómita. Há uma cultura de aproveitamento eficiente dos parcos
recursos, a não incomodidade com a aceitação da superioridade do outro e a
capacidade de jogar com o erro do adversário e o tirar partido da incapacidade
do outro de saber gerir o pós-erro. Tudo isto com um português a orientar tudo
isto, a metáfora transforma-se em coisa bem mais profunda. Fernando santos tem
um estilo de liderança que merece um caso de estudo. Permanentemente
angustiado, com o padrão típico de um síndroma qualquer em torno das vias
biliares, as imagens finais não enganaram quanto à aceitação da liderança, a sua
distendida libertação, enfim um sorriso rasgado, um salto até, digam lá se o
futebol não é uma metáfora completa.
E regresso ao herói do post, Karagounis. Vejam e revejam
o lance da alegada (bem discutível) simulação de grande penalidade que lhe
valeu o cartão amarelo e o seu afastamento dos quartos de final (afinal a tragédia
grega não poderia faltar). Karagounis protesta, vocifera, enquanto pressiona
simultaneamente o coração e o símbolo do seu emblema nacional, benze-se, tudo
com um esgar de rosto inconfundível, numa metáfora plena do que significa hoje
ser grego e aí viver. Haverá por certo quem se interrogue sobre o impacto que
terá esta vitória grega nas eleições de hoje. Prefiro não divagar e
concentrar-me no que significa aquele tipo de reação, aquela maneira de
contestar uma decisão. E a Europa também tem de ser construída com e a partir
destas realidades.
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