quinta-feira, 14 de junho de 2012

LE FER ROUGE DE LA MÉMOIRE


Já aqui dei mostras da minha obsessão pelos meandros da memória, sobretudo no plano literário e também cinematográfico. Por essa razão e também pela própria personalidade em si, a obra de Jorge Semprún ocupa um lugar de relevo nas minhas incursões pelo mundo dos livros.
Le Fer Rouge de la Mémoire é uma coletânea que a Gallimard acaba de editar, reunindo numa só edição simpática de cerca de 1160 páginas, cinco obras em francês de Semprúm: Le Grand Voyage (1963), L’Évanouissement (1967), Quel beau dimanche (1980), L´Écriture ou la vie (1994) e Le Mort quíl faut (2001). Às quais se juntam uma série de artigos e conferências que se vão cruzando com os contextos que determinaram as referidas obras.
As cinco obras são precedidas por uma minuciosa história de vida e também de época, acompanhando o advento da Guerra Civil em Espanha, a sua eclosão, o franquismo, a deportação em Buchenwald, a expulsão do Partido Comunista, até à morte em 2011 de Semprúm, sempre num cruzamento de obra, de vida, de referências dos seus livros e das inúmeras personalidades de políticos, escritores, artistas, militantes.
Uma viagem fascinante pelos meandros de uma memória que apagada ou silenciada trará a todos nós uma sensação perigosa de vazio de referências.
O título da coletânea vem de uma passagem da talvez mais popular obra de Semprúm em Portugal (Autobiografia de Federico Sánchez):
“Eh bien soit, je continuerai à remuer ce passé, à mettre en jour ses plaies purulentes, pour les cautériser avec le fer rouge de la mémoire.”
(E, assim sendo, continuarei a remoer sobre este passado, a expor as suas feridas purulentas, para as cicatrizar com o ferro incandescente da memória)
O regresso a Semprúm é também a oportunidade de regresso a uma língua que está também na minha memória, de uma beleza por vezes imensa de que o anglo-saxónico dos papers e do economês me afasta mas nunca definitivamente.

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