segunda-feira, 25 de junho de 2012

LILLE



O Público de hoje dedica especial atenção ao projeto cultural da cidade de Lille, capital europeia da cultura em 2004, conjuntamente com Génova.
Há um conjunto de fatores convergentes que transformam esta cidade numa referência relevante para uma abordagem comparativa com questões regionais e nortenhas. Primeiro, porque Madame Le Maire é nada mais, nada menos do que Martine Aubry. Segundo, porque Lille é também capital de um território de tradição têxtil, que experimentou como muitos outros no espaço europeu o declínio e a procura de vias alternativas. Terceiro, porque é um caso de persistência de políticas públicas, sobretudo depois do impulso que o estatuto de capital europeia de cultura proporcionou.
Num ano em que Guimarães é a menina dos nossos olhos e num tempo em que a experiência do Porto já lá vai, a experiência de Lille constitui de facto um excelente ponto de referência e inspiração entre uma esperança que se desvaneceu e uma outra que desponta.
É importante destacar o testemunho do responsável pelo turismo local: “O que é que mudou em Lille com a CEC 2004? Primeiro que tudo, a perceção que os habitantes têm de si próprios: passaram a ter orgulho na sua cidade e nas coisas inovadoras que conseguem fazer”. Este tipo de impactos é frequentemente ignorado nas avaliações dos efeitos de iniciativas desta natureza. Sabemos que esse resultado é tanto mais provável quanto mais a programação CEC envolve a população local, utiliza a sua capacidade inventiva, faz apelo às suas energias, sempre combinada com a abertura ao mundo da criação externa.
Lille afirma-se como cidade da cultura e das artes, mas segundo o testemunho de Samuel Costa, um programador português, formado nas Belas Artes do Porto, a trabalhar no projeto LILLE 3000, “é uma cidade muito aberta e tem uma dinâmica impressionante, que surpreende principalmente pela forma como a sua população abraça os projetos e quer descobrir coisas novas e diferentes”.
No meio de iniciativas que a reportagem destaca e que são algumas de fazer criar água na boca, destaco as Maison Folie – Wassemes e Moulin, fábricas desativadas que a CEC colocou à disposição da animação comunitária. Iniciativas desta natureza seriam rapidamente etiquetadas no Porto de perigosos movimentos esquerdistas, perigos eminentes de atentados à saúde pública ou aos bons costumes, substituindo-as por um arremedo qualquer de concessão ou de parceria público-privada ou à mercê de um qualquer vereador incompetente.
Mas o que fica especialmente de Lille é a persistência do projeto e da política pública que compreende que uma CEC é um princípio, não uma iniciativa que se esgota depois de melhor ou pior concluída. E neste aspeto não são apenas as lideranças políticas que têm de compreender este pressuposto. São também os agentes e empreendedores culturais.

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