O Público de hoje dedica especial atenção ao projeto
cultural da cidade de Lille, capital europeia da cultura em 2004, conjuntamente
com Génova.
Há um conjunto de fatores convergentes que transformam
esta cidade numa referência relevante para uma abordagem comparativa com
questões regionais e nortenhas. Primeiro, porque Madame Le Maire é nada mais,
nada menos do que Martine Aubry. Segundo, porque Lille é também capital de um
território de tradição têxtil, que experimentou como muitos outros no espaço
europeu o declínio e a procura de vias alternativas. Terceiro, porque é um caso
de persistência de políticas públicas, sobretudo depois do impulso que o
estatuto de capital europeia de cultura proporcionou.
Num ano em que Guimarães é a menina dos nossos olhos e num
tempo em que a experiência do Porto já lá vai, a experiência de Lille constitui
de facto um excelente ponto de referência e inspiração entre uma esperança que
se desvaneceu e uma outra que desponta.
É importante destacar o testemunho do responsável pelo
turismo local: “O que é que mudou em Lille com a CEC 2004? Primeiro que tudo, a
perceção que os habitantes têm de si próprios: passaram a ter orgulho na sua
cidade e nas coisas inovadoras que conseguem fazer”. Este tipo de impactos é
frequentemente ignorado nas avaliações dos efeitos de iniciativas desta
natureza. Sabemos que esse resultado é tanto mais provável quanto mais a
programação CEC envolve a população local, utiliza a sua capacidade inventiva,
faz apelo às suas energias, sempre combinada com a abertura ao mundo da criação
externa.
Lille afirma-se como cidade da cultura e das artes, mas
segundo o testemunho de Samuel Costa, um programador português, formado nas
Belas Artes do Porto, a trabalhar no projeto LILLE 3000, “é uma cidade muito
aberta e tem uma dinâmica impressionante, que surpreende principalmente pela
forma como a sua população abraça os projetos e quer descobrir coisas novas e diferentes”.
No meio de iniciativas que a reportagem destaca e que são
algumas de fazer criar água na boca, destaco as Maison Folie – Wassemes e Moulin, fábricas desativadas que a CEC colocou à disposição da animação
comunitária. Iniciativas desta natureza seriam rapidamente etiquetadas no Porto
de perigosos movimentos esquerdistas, perigos eminentes de atentados à saúde
pública ou aos bons costumes, substituindo-as por um arremedo qualquer de
concessão ou de parceria público-privada ou à mercê de um qualquer vereador
incompetente.
Mas o que fica especialmente de Lille é a persistência do
projeto e da política pública que compreende que uma CEC é um princípio, não
uma iniciativa que se esgota depois de melhor ou pior concluída. E neste aspeto
não são apenas as lideranças políticas que têm de compreender este pressuposto.
São também os agentes e empreendedores culturais.
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