(Fonte: a partir do IMF Report, June 2012)
Não me vou referir às pseudo habilidades comunicacionais
do governo espanhol e em especial do seu líder Rajoy em procurar apresentar o
resgate da banca espanhola como uma grande vitória, indiciadora em seu entender
do poder da Espanha no concerto europeu. Cada qual escolhe as vitórias que quer
ter. O véu sobre essa decisão vai lentamente sendo levantado e receio bem que
de uma anunciada vitória vamos ter uma retirada e sem calhar não tão pouco
estratégica como isso.
A volatilidade dos mercados financeiros no imediatamente
após a referida comunicação do resgate (reação positiva, primeiro, agravamento
depois e hoje alguma distensão) evidencia bem que a situação está longe de
estar estável. O problema continua a ser mais global e este modelo de decisão
europeu de avançar a conta-gotas, contornando sempre o essencial, contribui ele
próprio para a indeterminação.
Seja o resgate de 80 ou 100 mil milhões de euros, sabe-se
que ele será processado através do instrumento nacional FROB de capitalização
bancária e, por isso, acrescentará à dívida pública espanhola, já que alguém,
neste caso o Estado, terá de assumir a respetiva responsabilidade. E, se a
operação vier a ser objeto da intervenção do novo Mecanismo Europeu de
Estabilidade então a dívida em causa ganhará prioridade sobre os restantes títulos
da dívida pública espanhola.
A título de mera curiosidade, o gráfico acima apresenta a
estimativa da evolução da dívida global do governo espanhol até 2017 que o FMI
calculou no seu recente relatório de junho sobre a situação espanhola. Mesmo
sem o resgate financeiro considerado, a trajetória imposta pela crise das dívidas
soberanas atirava a dívida espanhola em 2017 para cerca de 92% do PIB, isto
numa economia em que em 2008 esse rácio andava em torno dos 40% do PIB para um
défice público nesse ano de 4,2% do PIB.
Estimam os analistas que o resgate financeiro à banca
poderá significar acrescentar cerca de 11 pontos percentuais ou mais à dívida pública,
o que face à estimativa do FMI, poderia determinar que a dívida pública espanhola
se projetasse já em 2015 para além dos 100% do PIB.
Tudo isto numa economia em que o problema central é o
endividamento do setor privado, incluindo a banca.
Haverá melhor evidência de que só uma solução global será
coerente com toda esta situação?
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