quarta-feira, 13 de junho de 2012

A ESPANHA NO FIO DA NAVALHA

(Fonte: a partir do IMF Report, June 2012)

Não me vou referir às pseudo habilidades comunicacionais do governo espanhol e em especial do seu líder Rajoy em procurar apresentar o resgate da banca espanhola como uma grande vitória, indiciadora em seu entender do poder da Espanha no concerto europeu. Cada qual escolhe as vitórias que quer ter. O véu sobre essa decisão vai lentamente sendo levantado e receio bem que de uma anunciada vitória vamos ter uma retirada e sem calhar não tão pouco estratégica como isso.
A volatilidade dos mercados financeiros no imediatamente após a referida comunicação do resgate (reação positiva, primeiro, agravamento depois e hoje alguma distensão) evidencia bem que a situação está longe de estar estável. O problema continua a ser mais global e este modelo de decisão europeu de avançar a conta-gotas, contornando sempre o essencial, contribui ele próprio para a indeterminação.
Seja o resgate de 80 ou 100 mil milhões de euros, sabe-se que ele será processado através do instrumento nacional FROB de capitalização bancária e, por isso, acrescentará à dívida pública espanhola, já que alguém, neste caso o Estado, terá de assumir a respetiva responsabilidade. E, se a operação vier a ser objeto da intervenção do novo Mecanismo Europeu de Estabilidade então a dívida em causa ganhará prioridade sobre os restantes títulos da dívida pública espanhola.
A título de mera curiosidade, o gráfico acima apresenta a estimativa da evolução da dívida global do governo espanhol até 2017 que o FMI calculou no seu recente relatório de junho sobre a situação espanhola. Mesmo sem o resgate financeiro considerado, a trajetória imposta pela crise das dívidas soberanas atirava a dívida espanhola em 2017 para cerca de 92% do PIB, isto numa economia em que em 2008 esse rácio andava em torno dos 40% do PIB para um défice público nesse ano de 4,2% do PIB.
Estimam os analistas que o resgate financeiro à banca poderá significar acrescentar cerca de 11 pontos percentuais ou mais à dívida pública, o que face à estimativa do FMI, poderia determinar que a dívida pública espanhola se projetasse já em 2015 para além dos 100% do PIB.
Tudo isto numa economia em que o problema central é o endividamento do setor privado, incluindo a banca.
Haverá melhor evidência de que só uma solução global será coerente com toda esta situação?

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