Mais uma corrida mais uma viagem, diz-se
nas feiras de entretenimento. Mais um dia mais uma reforma, dizem os nossos governantes.
Chegou hoje a vez do capital de risco, pela enésima vez e sempre em nome da
eficiência. À cabeça, o novel secretário de Estado do Empreendedorismo,
Competitividade e Inovação que chegou do Minho para nos ensinar a empreender, competir
e inovar.
Já tinha dado por ele mas associava-o
preferencialmente ao seu frequente papel de inovador emplastro de Cavaco
(estará na sua delegação de competências?).
Já tinha ficado altamente impressionado
pela inovadora frescura da sua recente entrevista ao “Jornal i”.
Já tinha ficado alertado para a sua inovadora
obra face a um sempre atempado anúncio do assessor de imprensa de serviço Luís
Marques Mendes (às Quintas na TVI 24), ainda que fosse útil solicitar a quem
lhe dá as dicas que se certifique de que foi bem compreendido (a sua segunda referência
sobre a matéria – “estima-se já uma intervenção na ordem de 600 milhões de euros
por parte desta única empresa e em cerca de 180 participadas” – confunde primariamente
capital sob gestão com novos recursos financeiros disponíveis e empresas
participadas com novas parcerias possíveis).
Hoje, fiquei definitivamente rendido ao inovador
brilho da sua entrevista matinal à RTP.
Atente-se e absorva-se, se possível
devagarinho:
·
“Com este novo operador vai mudar, acima de tudo, a
atitude do Estado no apoio ao empreendedorismo e à inovação através deste
mecanismo e deste instrumento fundamental nas economias modernas de apoio à
criação e ao desenvolvimento de empresas: o capital de risco público. E, com
esta reforma, aquilo que se espera é, para além de operacionalmente se
conseguirem ganho na ordem de 1 milhão de euros anuais nos próximos cinco anos
pela fusão destas três sociedades existentes, pretende-se também que haja uma
coordenação na atuação do Estado neste papel de apoio às empresas, à criação de
novas empresas a partir das universidades, a partir daquilo que se faz também
nas incubadoras, mas também no desenvolvimento de empresas para as suas
estratégias de internacionalização ou desenvolvimento. E, portanto, com quase
600 milhões de euros sob gestão e com estas 180 empresas participadas, o que se
espera agora é – com um disponibilidade de 140 milhões de euros – investir
naquilo que são as empresas que, através da inovação, possam de facto criar
impacto na economia nacional, criar emprego e criar valor para o País.”
·
“Aquilo que o novo operador de capital de risco
público vai fazer é reger-se pelas melhores práticas internacionais e apostar
naquilo que são projetos, como eu disse, de valor para a economia nacional. E
portanto existem um conjunto de critérios muito claros, muito transparentes e
projetos que tenham essas caraterísticas podem ser analisados e poderão então
existir investimentos. Naturalmente que existe, neste momento, já um conjunto
elevado de oportunidades que estão a ser analisadas e mais esperamos que após o
dia de hoje apareçam e que possam de facto gerar valor para o País e criar mais
empregos.”
·
“Aquilo de que nós necessitamos essencialmente é de
empresas que inovem mais e, a partir de produtos e de serviços transacionáveis
inovadores e que possam ser vendidos nos mercados internacionais, possam assim
ter um impacto na economia. Essa é a grande aposta. Nós temos pessoas e
empreendedores com excelentes ideias, muitas vezes precisam de um apoio na
gestão – e aí também o capital de risco ‘lato sensu’, público e privado, pode
ajudar e, aliás, esse e também uma das apostas deste novo operador de capital
de risco público é trabalhar em parceria com os atores privados. Aquilo que
queremos é ‘menos Estado, melhor Estado’, o Estado a colaborar com os atores
privados do capital de risco, e também com os ‘business angels’ em Portugal, de
forma a potenciar-se um investimento em projetos de valor.”
·
“Isto é dinheiro, como eu dizia, de acordo com as boas
práticas de capital de risco. Aquilo que o Estado faz ao entrar no capital
social de uma empresa – que vai apoiar não só com esse capital social mas
também com ‘know-how’, com apoio no desenvolvimento da sua estratégia –, aquilo
que o Estado espera é que, ao fim de alguns anos, poder recolher aquilo que
investiu com um determinado ganho. Isto é aquilo que o capital de risco faz no
mundo. Esta também é uma das grandes diferenças para esta reforma: é que
anteriormente o capital de risco público pouco se preocupava com a
rentabilidade dos seus investimentos e com o retorno. E agora isso é diferente:
Portugal passa a ter uma capital de risco pública que se preocupa com o impacto
na economia mas também com o retorno deste investimento.”
Dirão os maledicentes: Idade da Pedra, grau
zero, arroz de quinze…. Pessoalmente, que não sou de grandes intrigas, fico-me
por um modesto “Portugal no seu melhor”…
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