José Gomes Ferreira é profissional sério e esforçado que, enquanto jornalista, cumpre há anos escrupulosamente as missões que lhe vão sendo confiadas. A coisa já treme um pouco mais quando é chamado ao comentário, área em que uma férrea vontade de simplificar se sobrepõe por vezes a mínimos de rigor e em que, definitivamente, não consegue ser Perez Metelo. Mas o caldo estraga-se mesmo quando passa do comentário à opinião e se permite dar aso às suas legítimas, mas infundamentadas, emoções. Esta noite, na “SIC Notícias”, foi de bradar aos céus – vejamos um excerto absolutamente notável:
“Eu
permito-me dizer uma coisa que vai ferir suscetibilidades, mas neste momento é
o que eu penso. Neste momento, eu penso que certa esquerda – incluindo esquerda
moderada – está a fazer o jogo e a defender o interesse dos mercados
financeiros, de Wall Street e da City ao defender que os Estados se devem
endividar mais ainda e ao defender que Estados que não se endividaram, como a
Alemanha, se endividem para sustentar níveis de vida absolutamente
insustentáveis. E digo isto por uma razão: quem nos empresta o dinheiro, ao
subir os juros recebe ainda mais por esse dinheiro. Se nós não pararmos esta
espiral de loucura em que os mercados financeiros transformaram o mundo
ocidental, que em cada recanto puseram crédito, se não transformarmos isto nós
vamos cair todos. E quem percebeu que temos que parar foi a senhora Merkel. E
eu digo – isto pode provocar polémica mas eu… arrisco-me a ser criticado,
assumo – a senhora Merkel neste momento está a fazer uma política de esquerda,
a defender o chefe de família sóbrio, que não se endivida, que paga os seus impostos
e que é responsável. Ela está a fazer uma política de esquerda e os mesmos que
dizem que os Estados têm de investir dinheiro em estímulos estão a levar a que
a dívida aumente e os mercados financeiros a ganhar dinheiro que não merecem.”
“Confusion de confusiones”, como diria o
João Duque…
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