O último post do amigo Freire de Sousa, “Murphy à
Portuguesa”, constitui um tiro certo não só numa evidência, mas também em
convergência com algumas das minhas obsessões sobre a história recente.
De facto, a desvalorização dos problemas de balança de
pagamentos associados à perda de soberania monetária portuguesa e à entrada na
moeda única, tão limpidamente transparentes no discurso de tomada de posse no
Banco de Portugal em 2000, é das matérias mais preciosas para uma avaliação da
história macroeconómica portuguesa recente. Ainda bem que o referido post o evidenciou
para memória futura deste blogue. E não constitui anátema pequeno para a memória
recente do PS que tardará a distanciar-se dessa herança. Aliás, há aqui
investigação económica e histórica a fazer em torno dos efeitos reais que essa
desvalorização assumida (do problema e não da moeda, claro) terá provocado na
condução da política económica portuguesa.
Mas há uma outra interrogação da história recente que me
tem obcecado e sobre essa tenho a consciência tranquila de a ter denunciado
preto no branco nos dois relatórios de avaliação global de 2003 e 2005 do III
Quadro Comunitário de Apoio 2000-2006.
De que é que se trata?
Trata-se de uma contradição insanável da qual a economia
portuguesa ainda não recuperou e da qual tardará a fazê-lo. A questão é esta.
Enquanto uma parte considerável do tecido produtivo e empresarial português mergulhava
num longo ajustamento aos novos rumos da globalização, carecendo por isso de
políticas públicas que favorecessem esse ajustamento, a política de afetação de
recursos públicos favorecia, pelo contrário, um modelo baseado até à exaustão
na promoção de não transacionáveis e sobretudo na dualidade
infraestruturas-imobiliário.
É claro que há uma clara interação desta interrogação com
a primeira. Mas a história macroeconómica recente necessita de aprofundar as
razões do não peso do rei vai nu. As variáveis disponíveis para o fazer estavam
amplamente disponíveis, a começar pela evolução do crédito bancário.
A subida consequente do preço relativo “’preço bens não
transacionáveis’/’preço dos transacionáveis’” e o efeito demonstrativo que
provocou no desvio do investimento privado ficará como uma das mais espantosas
omissões ou desvalorização de problema que a história macroeconómica portuguesa
recente.
E parece que tudo começou com o raio de um discurso de
tomada de posse em 2000. Haverá memórias ou reflexões simplesmente académicas
de personalidades cruciais que serão matéria fundamental para esclarecer esta
opacidade dos verdadeiros problemas.
Quando é que o colega Fernando Teixeira dos Santos começará
a escrever sobre isto?
Na verdade, acho que esta questão é bem mais importante
do que a já mais estudada antecâmara do pedido de ajuda às autoridades
internacionais e processo do PEC4.
E também aqui o PS necessita de estabilizar a sua posição
crítica sobre a matéria, ainda que isso possa doer a parte do grupo
parlamentar. É a vida.
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