(amizademarcia.blogspot.com)
Sobre o rigor do jornalista José Manuel Fernandes estamos
conversados. Este senhor ou simples candidato a isso, cavalga normalmente as “boas”
causas, foge como o diabo da cruz dos temas da reflexão mais fraturante e aqui
está no caso vertente a colar-se às posições alemãs nesta antecâmara (diria
melhor vertigem) do abismo em que a zona euro está mergulhada.
No artigo do Público de hoje, JMF agarra-se a outra
dicotomia: os que sabem fazer contas (os alemães) e os que estão aflitos. E
incomoda-se, coitado, com a pressão que a Europa realiza sobre o livro de
cheques alemão e sobre a guardiã Frau Merkel que tal como o gigante do Manuel
Neuer, guardião da seleção alemã, tenta manter inviolável (salvo seja) o
referido livro.
Mas tal como noutras oportunidades e noutros artigos, JMF
normalmente descai-se e cede facilmente à falta de rigor. No artigo em questão,
no meio de considerações potencialmente interessantes, como por exemplo a referência
ao voluntarismo da chamada “União dos 4 presidentes (Barroso, Rompuy, Draghi, Juncker),
lá nos brinda com uma invocação ou citação de um economista alemão a que já me
referi neste blogue, Hans-Werner Sinn, que tem procurado incendiar a opinião pública
alemã sobre interpretações abusivas, precipitadas, diria mesmo não inocentes,
sobre a natureza dos desequilíbrios que, no âmbito do já também aqui referido
sistema TARGET 2, a Alemanha tem favoravelmente acumulado em relação a esse
sistema, por contrapartida das responsabilidades líquidas dos países da Europa
do Sul têm contraído face a esse mesmo sistema.
Se uma pinga de rigor atravessasse a mente de JMF, para
temperar as suas derivas ideológicas, JMF teria tido a abertura de citar a
imensa controvérsia que as posições de Sinn têm despertado junto de algumas
revistas e blogues, como é o caso do VOX, também aqui já profusamente citado. Voltarei
a esta questão em próximo post, sobretudo para mostrar que o debate é bem mais
rico e interessante do que uma mente pouco rigorosa como a de JMF pode imaginar.
Ou teria feito referência a uma proposta que está em cima
da mesa das negociações proposta pelo Conselho Alemão dos Peritos Económicos,
designado na imprensa internacional como o Fundo de Resgate da Zona Euro, cuja
ideia principal gira em torno de uma mutualização da dívida de cada país acima
dos 60% do PIB, que conduzirá a uma versão atenuada dos eurobonds. Esta posição
vinda de dentro da Alemanha dificilmente estará ausente de cenários de recuo de
negociação que a senhora Merkel, embora tenha por contrapartida uma difícil
negociação (sobretudo para os endividados do sul) em torno de eventuais aprofundamentos
do pacto fiscal.
Curiosamente, esta forma de mutualização parcelar da dívida
também faz parte da aprovação por parte do Parlamento Europeu de um texto
legislativo de iniciativa da deputada Elisa Ferreira que, nas suas palavras: "Pela
primeira vez, num texto legislativo apoiado por cerca de 80% do Parlamento,
aparece uma proposta concreta de um instrumento para financiar o crescimento e
as políticas anti-crise e a criação de "euro-obrigações", começando
pela gestão em comum da dívida que excede os 60% do PIB”. A importância desta
votação evidencia alguma viragem na agenda política e legislativa europeia e
esperemos que tenha alguma projeção no triângulo, pouco amoroso, “Parlamento,
Comissão e Conselho”.
Da falsa metáfora de Merkel ao comparar a economia da zona
euro à economia familiar de uma família alemã pacata e aforradora à nova
dicotomia (JMF) entre os que sabem fazer contas e os aflitos há uma coisa que
as une: a falta de rigor.
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