Os resultados do exame de aferição do 4º ano e do teste
intermédio do 9º ano a que o Público de hoje faz referência são simultaneamente
dececionantes e intrigantes, sobretudo no que diz respeito à matemática.
No primeiro caso, a média percentual é ainda positiva
(53,9%), mas a descida em dois anos é de 16,9 pontos percentuais, com
agravamento do número de notas negativas e queda substancial da classificação
muito bom.
No teste intermédio do 9º ano, a média das notas em Matemática
queda-se pelos 31,1%, mostrando ainda o Gabinete de Avaliação Educacional do
MEC que a diferença média encontrada entre as classificações obtidas por escolas
com programa antigo e novo em vigor é insignificante e igual a 0,5 pontos
percentuais para 100 pontos.
Resultados simultaneamente dececionantes e intrigantes. Dececionantes
porque sugerem um fenómeno de iliteracia matemática larvar, com sérias implicações
nos rumos que a progressão dos estudos tenderá a assumir na grande maioria dos
estudantes portugueses, a braços com a chamada fuga à matemática. Mas também
intrigantes, porque a comunidade escolar e o Ministério não conseguem centrar
as causas de tal fenómeno, ora por oscilações programáticas, ora por alterações
dos níveis de exigência na elaboração de provas de aferição, intermédias ou
finais, ora ainda por inovações pedagógicas efémeras ou pouco consistentes. E
este é um domínio em que deve ser a comunidade escolar a definir regras, sob
pena de entrarmos no jogo político dos indicadores e das percentagens. Haverá sempre
alguém disposto a prestar-se ao serviço laudatório de quem governa e baixar
exigências de provas com reflexos nos indicadores de aproveitamento.
A iliteracia matemática é dos tais problemas em que se vê
a capacidade de um país para conceber abordagens eficazes a problemas concretos
e sobretudo a capacidade de envolver as comunidades escolares em ações
consequentes.
O prolongamento estrutural de uma tal iliteracia matemática
compromete largamente o que António Sampaio da Nóvoa tão brilhantemente
anunciou no seu discurso do 10 de Junho e que consiste na plataforma de ciência,
conhecimento e tecnologia que o país atingiu e que tem de ser, mesmo com
escolhas públicas de contenção, defendida e reforçada.
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