quarta-feira, 13 de junho de 2012

ILITERACIAS


Os resultados do exame de aferição do 4º ano e do teste intermédio do 9º ano a que o Público de hoje faz referência são simultaneamente dececionantes e intrigantes, sobretudo no que diz respeito à matemática.
No primeiro caso, a média percentual é ainda positiva (53,9%), mas a descida em dois anos é de 16,9 pontos percentuais, com agravamento do número de notas negativas e queda substancial da classificação muito bom.
No teste intermédio do 9º ano, a média das notas em Matemática queda-se pelos 31,1%, mostrando ainda o Gabinete de Avaliação Educacional do MEC que a diferença média encontrada entre as classificações obtidas por escolas com programa antigo e novo em vigor é insignificante e igual a 0,5 pontos percentuais para 100 pontos.
Resultados simultaneamente dececionantes e intrigantes. Dececionantes porque sugerem um fenómeno de iliteracia matemática larvar, com sérias implicações nos rumos que a progressão dos estudos tenderá a assumir na grande maioria dos estudantes portugueses, a braços com a chamada fuga à matemática. Mas também intrigantes, porque a comunidade escolar e o Ministério não conseguem centrar as causas de tal fenómeno, ora por oscilações programáticas, ora por alterações dos níveis de exigência na elaboração de provas de aferição, intermédias ou finais, ora ainda por inovações pedagógicas efémeras ou pouco consistentes. E este é um domínio em que deve ser a comunidade escolar a definir regras, sob pena de entrarmos no jogo político dos indicadores e das percentagens. Haverá sempre alguém disposto a prestar-se ao serviço laudatório de quem governa e baixar exigências de provas com reflexos nos indicadores de aproveitamento.
A iliteracia matemática é dos tais problemas em que se vê a capacidade de um país para conceber abordagens eficazes a problemas concretos e sobretudo a capacidade de envolver as comunidades escolares em ações consequentes.
O prolongamento estrutural de uma tal iliteracia matemática compromete largamente o que António Sampaio da Nóvoa tão brilhantemente anunciou no seu discurso do 10 de Junho e que consiste na plataforma de ciência, conhecimento e tecnologia que o país atingiu e que tem de ser, mesmo com escolhas públicas de contenção, defendida e reforçada.

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