A coincidência do aniversário de uma grande amiga (que
recebe maravilhosamente bem) com a noite de S. João tem-me afastado nos últimos
anos de uma noite habitualmente mágica na cidade do Porto.
Por mais desvios que possamos encontrar nesta noite-evento,
por pouca graça ou nenhuma que possamos achar aos martelos que nos matraqueiam
a cabeça, por mais sensível ou enjoado que se seja ao aroma da sardinha assada,
por mais fragmentada que a noite se apresente entre os muitos Portos em que a
cidade se decompõe, não deixa de ser uma noite mágica. E não se trata de
grandes equipamentos, mega-concertos ou outras coisas mais ou menos faraónicas.
Trata-se apenas da distensão das pessoas, do ganhar a rua, da tolerância, do
inter-classismo, do simplesmente estar bem numa cidade que se torna diferente.
E nestes fenómenos não há atmosferas perfeitas ou asséticas.
Há pessoas com as suas especificidades, o pequeno aproveitamento comercial, o
idiota que se excede, o álcool que transborda, o genuíno pouco genuíno. Mas é
de cidade que se está a falar. E uma atmosfera única.
Sempre tive a sensação que o Porto nunca conseguiu
capitalizar um fenómeno desta natureza para voos mais largos. Hoje, talvez mais
maduro a pensar esses fenómenos, acho que não é capitalizável, porque se o
fosse a noite não seria tão mágica.
No aniversário a que me referia no início do post, há por
vezes gente estrangeira que vem na companhia de algumas famílias com frequência
regular do aniversário. Recordo-me um ano de um cientista anglo-saxónico, escocês
ou inglês já não me recordo bem, que nos fez companhia.
O homem estava abismado mas não retraído. As pessoas
começaram por comer uma sopa que certamente lhe pareceu de ervas do relvado,
mas que tragou bem, embora desconfiado. Depois, viu as mesmas pessoas mergulhar
nas sardinhas assadas, para se deliciar depois com a magia das sobremesas, isto
tudo com as gargantas não secas, antes pelo contrário. Para o fim, uns balões
começaram a subir e um pequeno fogo preso e de mão livre entusiasmou os
garotos. Depois ainda, foi-lhe explicado que imaginasse aquilo multiplicado por
um fator incalculável, distribuído pela cidade, seguido de um mergulho na
multidão. Não sei com que recordação ficou o cientista de uns aparentemente
vegetarianos, mas só na aparência, incendiários potenciais ou iniciados no fogo
de artifício com a ajuda da produção chinesa.
Mas é isto entre outros condimentos que torna a noite mágica,
mesmo que os “merdeiros” ou convencidos abundem e se pavoneiem nas receções
oficiais para fogo ver.
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