sábado, 23 de junho de 2012

SÃO JOÃO


A coincidência do aniversário de uma grande amiga (que recebe maravilhosamente bem) com a noite de S. João tem-me afastado nos últimos anos de uma noite habitualmente mágica na cidade do Porto.
Por mais desvios que possamos encontrar nesta noite-evento, por pouca graça ou nenhuma que possamos achar aos martelos que nos matraqueiam a cabeça, por mais sensível ou enjoado que se seja ao aroma da sardinha assada, por mais fragmentada que a noite se apresente entre os muitos Portos em que a cidade se decompõe, não deixa de ser uma noite mágica. E não se trata de grandes equipamentos, mega-concertos ou outras coisas mais ou menos faraónicas. Trata-se apenas da distensão das pessoas, do ganhar a rua, da tolerância, do inter-classismo, do simplesmente estar bem numa cidade que se torna diferente.
E nestes fenómenos não há atmosferas perfeitas ou asséticas. Há pessoas com as suas especificidades, o pequeno aproveitamento comercial, o idiota que se excede, o álcool que transborda, o genuíno pouco genuíno. Mas é de cidade que se está a falar. E uma atmosfera única.
Sempre tive a sensação que o Porto nunca conseguiu capitalizar um fenómeno desta natureza para voos mais largos. Hoje, talvez mais maduro a pensar esses fenómenos, acho que não é capitalizável, porque se o fosse a noite não seria tão mágica.
No aniversário a que me referia no início do post, há por vezes gente estrangeira que vem na companhia de algumas famílias com frequência regular do aniversário. Recordo-me um ano de um cientista anglo-saxónico, escocês ou inglês já não me recordo bem, que nos fez companhia.
O homem estava abismado mas não retraído. As pessoas começaram por comer uma sopa que certamente lhe pareceu de ervas do relvado, mas que tragou bem, embora desconfiado. Depois, viu as mesmas pessoas mergulhar nas sardinhas assadas, para se deliciar depois com a magia das sobremesas, isto tudo com as gargantas não secas, antes pelo contrário. Para o fim, uns balões começaram a subir e um pequeno fogo preso e de mão livre entusiasmou os garotos. Depois ainda, foi-lhe explicado que imaginasse aquilo multiplicado por um fator incalculável, distribuído pela cidade, seguido de um mergulho na multidão. Não sei com que recordação ficou o cientista de uns aparentemente vegetarianos, mas só na aparência, incendiários potenciais ou iniciados no fogo de artifício com a ajuda da produção chinesa.
Mas é isto entre outros condimentos que torna a noite mágica, mesmo que os “merdeiros” ou convencidos abundem e se pavoneiem nas receções oficiais para fogo ver.

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