Já seria de esperar. À medida que a cimeira europeia se
aproxima e nas reuniões técnicas preparatórias se joga o sentido das decisões
que realisticamente será possível associar à sua realização, recrudesce com
maior intensidade a divergência no eixo franco-alemão, sobretudo com as posições
da Itália e de França a confrontarem-se com a resistência alemã.
Não é de afastar a hipótese de que a oposição alemã a
qualquer forma de mutualização da dívida (eurobonds ou qualquer derivado próximo)
e de evolução para uma união bancária com a figura do seguro de depósito á
cabeça não seja uma última forma de pressão sobre o sentido de voto das eleições
gregas.
Mas a tendência mais geral da imprensa económica especializada
de ontem e hoje é interpretar as diversas posições alemãs sobre a matéria como
um aviso sério à navegação, defendendo posições nas complexas negociações que vão
ter lugar até definir uma trajetória de decisão. Tudo leva a crer que a Frau
Merkel vai tentar o mais possível afirmar a necessidade de fazer avançar o
pacto fiscal, contrapondo à mutualização da dívida o tema da mutualização da responsabilidade.
A exigência de mais cortes à liberdade de controlo orçamental, retirando aos
ministros das Finanças mais uma prerrogativa, é uma tendência provável de
negociação.
Temo bem que os países da Europa do Sul sejam moeda de
troca para a complexa negociação que vai ter lugar. E, com governos tão solícitos
(que nunca exprimiram uma palavra ou simples ideia de apoio às teses que visam
pressionar a posição alemã, como o português) ou tão atrapalhados pela suspeição
generalizada sobre a situação bancária (como o espanhol), esse receio ganha
ainda uma maior expressão.
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