domingo, 17 de junho de 2012

“GREXIT”?



Reportando-me às consequências do que possa vir a ocorrer a partir das eleições gregas de hoje (atente-se nas excelentes ilustrações de Saloshi Kambayashi no “Financial Times” e de Bernardo Erlich no "El País"), diria que, em rigor, ninguém sabe. Mas sempre há quem arrisque ordens de grandeza, as quais sempre nos vão ajudando a percecionar comparativamente as diferentes escalas potenciais de dificuldade/tormento. Aqui deixo três referências dessa natureza.

Há pouco mais de quinze dias, o Banco Nacional da Grécia divulgou um relatório de 16 páginas em que afirmava que o risco de uma saída da Grécia do Euro já não era apenas uma possibilidade teórica e avisava de que esse passo teria implicações dramáticas – “uma saída do Euro conduziria a um significativo declínio dos padrões de vida dos cidadãos gregos”. Que quantificava: o rendimento médio baixará cerca de 55%, a moeda nacional será desvalorizada em 65%, o PIB baixará 22%, a taxa de desemprego passará a ser de 34% e a inflação atingirá os 30%.

Em Dezembro de 2011, a equipa de Mark Cliffe no ING produziu um relatório (“EMU Break-up – Pay Now, Pay Later”) em que simulava dois cenários extremos (o modelo ING permite obter projecões para um horizonte de ajustamento de 5 anos e para variáveis como o crescimento real do PIB, a taxa de desemprego, a taxa de inflação, taxas de juro, taxas de câmbio, preços no mercado imobiliário e cotação do barril de petróleo): o primeiro, “soft”, em que apenas a Grécia abandonaria unilateralmente a Zona Euro mas num contexto ordenado e assistido; o segundo, “hard”, em que admite o colapso total do euro e a adoção de uma nova moeda nacional por cada um dos 17 Estados membros.

Uma comparação entre os dois cenários, utilizando como variável de referência a evolução do PIB, mostra que o primeiro cenário se saldaria por uma marcada concentração dos impactos na Grécia (forte recessão, em torno dos -10,5% de crescimento) e que o segundo implicaria efeitos recessivos em toda a Zona Euro (de -7% na Alemanha a -13% na Grécia). De notar, ainda, que a quebra acumulada da Zona Euro surge estimada, neste último caso de contágio máximo, entre 14 a 15% (equivalentes a cerca de 1,2 a 1,4 biliões de euros) para os 5 anos do horizonte de ajustamento.


Por fim, Jill Treanor sintetizava no “The Guardian” de ontem os cenários apontados pela “Aviva Investors” em relação a este tema do momento (“Greek euro exit: some scenarios”). Nos termos reproduzidos no quadro seguinte:


Retenhamos a síntese das sínteses: um cenário de manutenção da Grécia no Euro poderia levar a um custo de 134 mil milhões de euros (renegociações compensatórias em nome do bom comportamento) mas uma saída ordenada já conduziria a multiplicar esse custo pelo fator 2,5 (332 mil milhões) e uma expulsão da Grécia mais do que decuplicaria este último custo (3,5 biliões).

Julgo-me dispensado de tentar refletir estes e outros números em termos de dramas sociais e pessoais. Para dizer o mínimo…

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