Recordo que ontem Manuel Freire escrevera a Kolback da Veiga. No episódio de hoje, é este que responde àquele. Assim:
Exmo.
Senhor
Dr.
Manuel Freire
Muito
Ilustre Presidente da
Sociedade
Portuguesa de Autores
Av.
Duque de Loulé, 31
1069-153
Lisboa
Exmo.
Senhor Dr. Manuel Freire
Tem
V. Exa. inteira razão nos reparos que me faz na sua carta de 18 de Março
relativamente à falta de referência expressa no meu artigo publicado no
“Expresso”, intitulado “Memórias, retratos e histórias”, designadamente quanto
a trechos que fui colher à obra “Memórias de Narciso”, da Prof.ª
Doutora Clara Rocha.
Penitencio-me
dessa falta que se deveu a uma desatenção minha na reformulação apressada e
algo negligente do texto definitivo na versão enviada ao “Expresso”. O que se
passou na verdade foi o seguinte: o texto inicial continha múltiplas
referências não só à obra da Prof.ª Doutora Clara
Rocha, “exímia cabeça de proa da investigação da literatura autobiográfica em
Portugal", como também a textos do escritor Marcello Mathias sobre a mesma
matéria. Muitos autores foram igualmente citados e referidos como se vê do
texto.
Acontece
que à última da hora chamaram-me a atenção para a demasiada extensão do texto e
da imperiosa necessidade de encurtá-lo. O que fiz, já que infelizmente não
trabalho ao computador, à mão sobre o texto como sempre dactilografado pela minha
secretária.
Ora
sucede que o texto inicial, no seu segundo período, iniciava-se logo pela
referência (que se manteve, depois, mas agora no fim do texto) à “exímia cabeça
de proa dessa investigação é, sem dúvida, Clara Rocha que, com as suas Máscaras
de Narciso, veio chamar a atenção do leitor português…”
Seguiam-se-lhe
trechos da mesma obra que tive como fundamentais e que no texto inicial, se não
estavam “aspadas”, mostravam-se, sim, assinalados com a sua proveniência de
“loc. citado”, “ibidem” e “ut” entre parêntesis.
Aliás,
em todos os outros autores por mim citados o seu nome foi referido entre
parêntesis.
Ora,
com a passagem e transcrição daquele sobredito trecho (reportado às Máscaras de
Narciso de Clara Rocha) para o fim deixavam de ter sentido as referências de
“loc. citado”, “ibidem” e “ut”, nos outros trechos. Daí que, por isso, tivessem
sido suprimidospela minha secretária que novamente os dactilografou. E eu não
reparei nem tive em atenção, como aliás me cumpria, que, com essa supressão, os
referidos trechos ficavam sem referência à sua autora e à sua proveniência.
As
pressas, por vezes, é no que dão, lamentavelmente. Reconheço a minha desatenção
e até o meu descuido de que me penitencio e peço mil desculpas à Prof.ª
Doutora Clara Rocha que não tenho prazer de conhecer mas cuja obra tanto
admiro.
Pedia-lhe
o favor de fazer entregar à Exma. Senhora Doutora Clara Rocha a carta junta com
as desculpas que por mim lhe são devidas.
Com
muitos cumprimentos, passo a subscrever-me
Miguel
Veiga
Se distraidamente
alinhassemos na primeira e superficial impressão, diríamos que aí estava o
“gentleman” por que o dito se faz passar. Embrulhado, pouco convincente, escrevendo
em mau português, mas um cavalheiro à moda da “sua” Foz, um paladino da ética que
naturalmente se tenta mostrar cumpridor dos deveres que não desconhece cumprirem-lhe.
Assunto encerrado, pois. Mas será mesmo?
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