quinta-feira, 28 de junho de 2012

VEIGA E AS PRESSAS


Recordo que ontem Manuel Freire escrevera a Kolback da Veiga. No episódio de hoje, é este que responde àquele. Assim:

Exmo. Senhor
Dr. Manuel Freire
Muito Ilustre Presidente da
Sociedade Portuguesa de Autores
Av. Duque de Loulé, 31
1069-153 Lisboa

Exmo. Senhor Dr. Manuel Freire

Tem V. Exa. inteira razão nos reparos que me faz na sua carta de 18 de Março relativamente à falta de referência expressa no meu artigo publicado no “Expresso”, intitulado “Memórias, retratos e histórias”, designadamente quanto a trechos que fui colher à obra “Memórias de Narciso”, da Prof Doutora Clara Rocha.
Penitencio-me dessa falta que se deveu a uma desatenção minha na reformulação apressada e algo negligente do texto definitivo na versão enviada ao “Expresso”. O que se passou na verdade foi o seguinte: o texto inicial continha múltiplas referências não só à obra da Prof Doutora Clara Rocha, “exímia cabeça de proa da investigação da literatura autobiográfica em Portugal", como também a textos do escritor Marcello Mathias sobre a mesma matéria. Muitos autores foram igualmente citados e referidos como se vê do texto.
Acontece que à última da hora chamaram-me a atenção para a demasiada extensão do texto e da imperiosa necessidade de encurtá-lo. O que fiz, já que infelizmente não trabalho ao computador, à mão sobre o texto como sempre dactilografado pela minha secretária.
Ora sucede que o texto inicial, no seu segundo período, iniciava-se logo pela referência (que se manteve, depois, mas agora no fim do texto) à “exímia cabeça de proa dessa investigação é, sem dúvida, Clara Rocha que, com as suas Máscaras de Narciso, veio chamar a atenção do leitor português…”
Seguiam-se-lhe trechos da mesma obra que tive como fundamentais e que no texto inicial, se não estavam “aspadas”, mostravam-se, sim, assinalados com a sua proveniência de “loc. citado”, “ibidem” e “ut” entre parêntesis.
Aliás, em todos os outros autores por mim citados o seu nome foi referido entre parêntesis.
Ora, com a passagem e transcrição daquele sobredito trecho (reportado às Máscaras de Narciso de Clara Rocha) para o fim deixavam de ter sentido as referências de “loc. citado”, “ibidem” e “ut”, nos outros trechos. Daí que, por isso, tivessem sido suprimidospela minha secretária que novamente os dactilografou. E eu não reparei nem tive em atenção, como aliás me cumpria, que, com essa supressão, os referidos trechos ficavam sem referência à sua autora e à sua proveniência.
As pressas, por vezes, é no que dão, lamentavelmente. Reconheço a minha desatenção e até o meu descuido de que me penitencio e peço mil desculpas à Prof Doutora Clara Rocha que não tenho prazer de conhecer mas cuja obra tanto admiro.
Pedia-lhe o favor de fazer entregar à Exma. Senhora Doutora Clara Rocha a carta junta com as desculpas que por mim lhe são devidas.

Com muitos cumprimentos, passo a subscrever-me

Miguel Veiga

Se distraidamente alinhassemos na primeira e superficial impressão, diríamos que aí estava o “gentleman” por que o dito se faz passar. Embrulhado, pouco convincente, escrevendo em mau português, mas um cavalheiro à moda da “sua” Foz, um paladino da ética que naturalmente se tenta mostrar cumpridor dos deveres que não desconhece cumprirem-lhe. Assunto encerrado, pois. Mas será mesmo?

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