sexta-feira, 16 de novembro de 2012

50 ANOS DO ICS



Tenho entre mãos já há alguns dias a preparação da intervenção na Conferência Portugal em Mudança – Diversidades, Assimetrias, Contrastes com que o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa comemora os seus 50 anos de existência, enquanto instituição que tem acompanhado e analisado as mudanças mais relevantes da sociedade portuguesa.
Cabe-me a honra de ser “keynote speaker” na sessão Território e Desordens, num programa denso e rico de gente bem mais nova e qualificada. A responsabilidade aumenta quando a conferência de abertura é proferida por Paul de Grauwe, A crise das dívidas soberanas – Mundo, Europa, Portugal.
Partilho neste espaço o resumo do paper que estou a redigir e que servirá de suporte à minha intervenção.

Regularidades e desordens territoriais no Portugal sob resgate
A projeção no(s) território (s) das políticas macroeconómicas e do ajustamento das economias aos diferentes períodos e rumos da globalização constitui uma área não prolixa de investigação, podendo ser considerada um reflexo das pouco visitadas relações entre a macroeconomia e as ciências que trabalham com o território. É também reflexo da incipiente cultura de territorialização de políticas públicas em Portugal, fruto do centralismo exacerbado da administração pública portuguesa, do seu esvaziamento de inteligência e da lógica vertical setorializada ainda predominante. Se mergulharmos bem fundo nos alicerces autonómicos da economia do desenvolvimento e na chamada articulação das causas internas e externas do (sub) desenvolvimento, encontramos pistas relevantes para compreender as regularidades e desordens territoriais que vão caracterizando o território nacional, no seu modelo de sete regiões NUTS II e tendo em conta a profunda heterogeneidade observada ao nível intra-NUTS II (municípios e NUTS III).
O Portugal sob resgate não é mais do que uma metáfora para tentar compreender as especificidades da inércia (regularidades) e das evoluções mais disruptivas (desordens) que atravessam no momento presente o território continental. O modelo de crescimento da economia portuguesa que, na segunda metade da década 2000-2010, deu sinais claros de exaustão e esgotamento (infrastructure and non-traded goods –led growth), produziu padrões de afetação de recursos responsáveis em grande medida pelas dinâmicas territoriais observadas nas duas/três últimas décadas. Aquilo que assistimos agora é a penosa transformação desse modelo de crescimento e de afetação de recursos, largamente amplificada pela aplicação do mito da austeridade expansionista a Portugal e pelas condições particulares em que o resgate financeiro está a ser aplicado.
O paper (em que esta comunicação se transformará) procura estabelecer algumas tipologias dessa combinação de regularidades e desordens territoriais, privilegiando o nível de análise NUTS II, embora compreendendo que o mergulho em unidades territoriais mais focadas (NUTS III ou tipologias de NUTS III) é necessário para uma mais fundamentada perceção e explicação das transformações em curso.
E. tal como em outros trabalhos do autor, a perspetiva “policy-oriented” está também presente, tendo em conta que estamos uma vez mais perante um novo ciclo de programação comunitária que parece não incomodar muito os poderes vigentes.

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