sábado, 17 de novembro de 2012

QUE MOTORES PARA O CRESCIMENTO?



Ainda fascinado pela paleta de cores de Júlio Pomar na sua exposição Atirar a Albarda ao Ar na Árvore (apetecia-me ser rico só para ter o prazer de conviver em casa com um original de Pomar), recupero hoje a leitura de alguns papers que se encontravam numa fila de espera, cada vez mais longa, determinada pela inexorável rigidez do tempo.
Recupero por esta via um artigo de um dos mais estimulantes economistas americanos, Robert Gordon, publicado em Agosto deste ano no National Bureau of Economic Research – “Is US economic growth over? Faltering innovation confronts six headwinds” (O crescimento económico americano acabou? Uma inovação vacilante enfrenta seis ventos contrários). E faço-o sobretudo porque é música para os meus ouvidos, tendo em conta a ideia que tenho desenvolvido neste espaço segundo a qual a economia mundial pode estar a atravessar uma depressão de ciclo longo. Ou seja, os fatores motores do crescimento do mais recente ciclo longo da economia mundial podem estar esgotados ou em vias de o estar, dando assim à crise atual uma dimensão e uma natureza que não se combatem à Krugman apenas com uma política fiscal e monetária (principalmente a primeira) expansionista.
O artigo de Gordon é sugestivo na medida em que compara os três principais ciclos longos do crescimento da economia americana desde a primeira revolução industrial procurando mostrar que o alcance das inovações geradas no âmbito do paradigma das tecnologias de informação e comunicação e da microeletrónica ficariam aquém das realizações pelo menos da segunda revolução industrial (eletricidade, motor de combustão, comunicações, habitat, entretenimento).
A tese de Gordon parece sugerir uma espécie de lei dos rendimentos decrescentes das grandes famílias de inovações que corporizam as referidas três grandes revoluções industriais. Esta tese, sugestiva e estimulante, pode entretanto ser viciada por uma excessiva articulação das inovações com as questões da qualidade de vida e do bem estar individual, subvalorizando o seu impacto na produtividade.
O argumento de Gordon segundo o qual os fatores motores da terceira revolução industrial estarão já esgotados na economia americana não é fundamento suficiente para sustentar a tese dos rendimentos decrescentes das sucessivas revoluções industriais. É, pelo contrário, favorável ao meu argumento de que por trás da atual recessão mundial (senão total, pelo menos em centros relevantes) estará um problema de ciclo longo, não sendo ainda claros hoje os motores de uma nova expansão de tempo longo. A ser válida a minha ideia, então a governação da atual crise está errada e a persistir permanecerá enredada por muito tempo na sua incapacidade de compreender o momento atual do capitalismo.

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