Ainda fascinado pela
paleta de cores de Júlio Pomar na sua exposição Atirar a Albarda ao Ar na Árvore (apetecia-me ser rico só para ter o
prazer de conviver em casa com um original de Pomar), recupero hoje a leitura
de alguns papers que se encontravam
numa fila de espera, cada vez mais longa, determinada pela inexorável rigidez
do tempo.
Recupero por esta via
um artigo de um dos mais estimulantes economistas americanos, Robert Gordon,
publicado em Agosto deste ano no National
Bureau of Economic Research – “Is US economic
growth over? Faltering innovation confronts six headwinds” (O
crescimento económico americano acabou? Uma inovação vacilante enfrenta seis
ventos contrários). E faço-o sobretudo porque é música para os meus ouvidos,
tendo em conta a ideia que tenho desenvolvido neste espaço segundo a qual a
economia mundial pode estar a atravessar uma depressão de ciclo longo. Ou seja,
os fatores motores do crescimento do mais recente ciclo longo da economia
mundial podem estar esgotados ou em vias de o estar, dando assim à crise atual
uma dimensão e uma natureza que não se combatem à Krugman apenas com uma política
fiscal e monetária (principalmente a primeira) expansionista.
O artigo de Gordon é
sugestivo na medida em que compara os três principais ciclos longos do
crescimento da economia americana desde a primeira revolução industrial
procurando mostrar que o alcance das inovações geradas no âmbito do paradigma das
tecnologias de informação e comunicação e da microeletrónica ficariam aquém das
realizações pelo menos da segunda revolução industrial (eletricidade, motor de
combustão, comunicações, habitat, entretenimento).
A tese de Gordon
parece sugerir uma espécie de lei dos rendimentos decrescentes das grandes famílias
de inovações que corporizam as referidas três grandes revoluções industriais. Esta
tese, sugestiva e estimulante, pode entretanto ser viciada por uma excessiva
articulação das inovações com as questões da qualidade de vida e do bem estar
individual, subvalorizando o seu impacto na produtividade.
O argumento de Gordon
segundo o qual os fatores motores da terceira revolução industrial estarão já
esgotados na economia americana não é fundamento suficiente para sustentar a
tese dos rendimentos decrescentes das sucessivas revoluções industriais. É,
pelo contrário, favorável ao meu argumento de que por trás da atual recessão
mundial (senão total, pelo menos em centros relevantes) estará um problema de
ciclo longo, não sendo ainda claros hoje os motores de uma nova expansão de
tempo longo. A ser válida a minha ideia, então a governação da atual crise está
errada e a persistir permanecerá enredada por muito tempo na sua incapacidade
de compreender o momento atual do capitalismo.
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