quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O CALVÁRIO DE OBAMA




Não se pode ficar indiferente ao magnetismo da palavra e da presença de palco de Barack Obama, sobretudo no contexto de fortes interrogações que a eleição de ontem suscitou até ao último momento. Aliás, nos últimos tempos, a tendência para vibrar com acontecimentos no exterior (comemorações eleitorais de Hollande, Obama) começa a parecer uma sina. Vibração, mas em simultâneo a perceção de que começa um tempo de obstáculos, talvez de quebra de expectativas, de compromissos que vão para além dos programas e intenções sufragadas.
Assim o é com a caminhada que se abre ao segundo mandato de Obama, que pode bem transformar-se num calvário de negociação permanente ao nível de um congresso que, tudo leva a crer, reeditará o seu propósito de barragem permanente. No seio das clivagens que hoje atravessam o Partido Republicano, as posições de Romney e a sua aparente abertura para a cooperação institucional com o Presidente serão pombas de paz quando comparadas com os falcões agressivos que vão predominar no Congresso e na sua estratégia de barragem e tentativa de esvaziamento do programa de governo do presidente reeleito. Uma das palavras mais significantes do discurso de vitória de Obama em Chicago foi a sua insistência no agradecimento aos que continuaram a acreditar. E pelo modo como se perfila o contexto da governação bem necessário será continuarem a acreditar, pois os compromissos a que a presidência vai ser obrigada correm o risco de fazer esmorecer o entusiasmo dos “supporters” mais aguerridos.
Obama conseguiu a proeza de vencer o síndroma do contrafactual, isto é a dificuldade de mostrar em política como uma situação globalmente má poderia ser substancialmente pior sem a intervenção de quem é sufragado nas urnas. Poucos presidentes americanos conseguiram ser reeleitos com taxas de desemprego como as ainda observadas (apesar das melhorias recentes) nesta eleição. O entusiasmo e energia que evidenciou no seu discurso de vitória vão ser cruciais para conduzir o calvário da negociação a que o Congresso o vai necessariamente submeter.

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