Não se pode ficar
indiferente ao magnetismo da palavra e da presença de palco de Barack Obama,
sobretudo no contexto de fortes interrogações que a eleição de ontem suscitou
até ao último momento. Aliás, nos últimos tempos, a tendência para vibrar com
acontecimentos no exterior (comemorações eleitorais de Hollande, Obama) começa
a parecer uma sina. Vibração, mas em simultâneo a perceção de que começa um
tempo de obstáculos, talvez de quebra de expectativas, de compromissos que vão
para além dos programas e intenções sufragadas.
Assim o é com a
caminhada que se abre ao segundo mandato de Obama, que pode bem transformar-se
num calvário de negociação permanente ao nível de um congresso que, tudo leva a
crer, reeditará o seu propósito de barragem permanente. No seio das clivagens
que hoje atravessam o Partido Republicano, as posições de Romney e a sua
aparente abertura para a cooperação institucional com o Presidente serão pombas
de paz quando comparadas com os falcões agressivos que vão predominar no
Congresso e na sua estratégia de barragem e tentativa de esvaziamento do
programa de governo do presidente reeleito. Uma das palavras mais significantes do discurso de vitória de Obama em Chicago foi a sua insistência no
agradecimento aos que continuaram a acreditar. E pelo modo como se perfila o
contexto da governação bem necessário será continuarem a acreditar, pois os
compromissos a que a presidência vai ser obrigada correm o risco de fazer
esmorecer o entusiasmo dos “supporters” mais aguerridos.
Obama conseguiu a
proeza de vencer o síndroma do contrafactual, isto é a dificuldade de mostrar
em política como uma situação globalmente má poderia ser substancialmente pior
sem a intervenção de quem é sufragado nas urnas. Poucos presidentes americanos
conseguiram ser reeleitos com taxas de desemprego como as ainda observadas
(apesar das melhorias recentes) nesta eleição. O entusiasmo e energia que
evidenciou no seu discurso de vitória vão ser cruciais para conduzir o calvário
da negociação a que o Congresso o vai necessariamente submeter.
Sem comentários:
Enviar um comentário