As expectativas são
densas em torno do desfecho das eleições americanas, podendo estar eminente um
imbróglio em torno dos resultados e da sua validação, acaso se confirme o
impacto técnico anunciado pelas principais sondagens. É verdade que, tal como
Bradford De Long insistiu nos últimos dias, parece haver em determinado grupo
de sondagens um enviesamento de resultados favorável a Romney, sugerindo que os
resultados antecipados para este último estejam sobrevalorizados por pequena
margem percentual. De qualquer modo, a vitória de Obama não é nada líquida. Chamar-lhe-ei
o síndroma
eleitoral do contrafactual. Por outras palavras, politicamente e
em termos de linguagem eleitoral é difícil passar a mensagem de que a economia
americana estaria pior sem o estilo mais intervencionista de Obama. Ora, do
ponto de vista do estímulo fiscal conseguido por Obama, embora inferior ao
necessário, existem evidências econométricas de que a economia americana teria
experimentado uma perda de produto potencial bem mais elevada sem o referido estímulo
fiscal, o que é a mesma coisa que dizer que o desemprego seria hoje mais
elevado. Mas a tradução dessas evidências avançadas em termos de discurso
eleitoral incisivo e impactante do eleitorado esteve longe de se produzir.
E não podemos esquecer
a América republicana profunda. No meio da qualidade das reportagens da TSF
sobre essa América mais profunda e sobre as particularidades da luta eleitoral
nos EUA, hoje pela manhã dei comigo em viagem a ouvir o Minho emigrado misturado com o também mais profundo republicanismo. Vale a pena ouvir. Pequenos
comerciantes provenientes do Minho, já implantados na Virgínia há longo tempo,
destilam na reportagem um quase ódio à governação Obama: “Tirar aos mais ricos
para dar aos mais pobres é socialismo, quase comunismo (…) quando não consegue
fazer passar leis pelo Congresso opta por regulamentos (…) é quase comunismo”. Quer
isto significar que o falsete de Romney quando foi apanhado em privado a
desprezar os “47% que vivem do Estado” não é bem um falsete, é mais uma ária largamente
aplaudida por uma percentagem significativa da América mais recôndita e
conservadora. Arrepiante, sobretudo quando o conservadorismo pode ganhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário