terça-feira, 6 de novembro de 2012

O MINHO PROFUNDO NA AMÉRICA REPUBLICANA



As expectativas são densas em torno do desfecho das eleições americanas, podendo estar eminente um imbróglio em torno dos resultados e da sua validação, acaso se confirme o impacto técnico anunciado pelas principais sondagens. É verdade que, tal como Bradford De Long insistiu nos últimos dias, parece haver em determinado grupo de sondagens um enviesamento de resultados favorável a Romney, sugerindo que os resultados antecipados para este último estejam sobrevalorizados por pequena margem percentual. De qualquer modo, a vitória de Obama não é nada líquida. Chamar-lhe-ei o síndroma eleitoral do contrafactual. Por outras palavras, politicamente e em termos de linguagem eleitoral é difícil passar a mensagem de que a economia americana estaria pior sem o estilo mais intervencionista de Obama. Ora, do ponto de vista do estímulo fiscal conseguido por Obama, embora inferior ao necessário, existem evidências econométricas de que a economia americana teria experimentado uma perda de produto potencial bem mais elevada sem o referido estímulo fiscal, o que é a mesma coisa que dizer que o desemprego seria hoje mais elevado. Mas a tradução dessas evidências avançadas em termos de discurso eleitoral incisivo e impactante do eleitorado esteve longe de se produzir.
E não podemos esquecer a América republicana profunda. No meio da qualidade das reportagens da TSF sobre essa América mais profunda e sobre as particularidades da luta eleitoral nos EUA, hoje pela manhã dei comigo em viagem a ouvir o Minho emigrado misturado com o também mais profundo republicanismo. Vale a pena ouvir. Pequenos comerciantes provenientes do Minho, já implantados na Virgínia há longo tempo, destilam na reportagem um quase ódio à governação Obama: “Tirar aos mais ricos para dar aos mais pobres é socialismo, quase comunismo (…) quando não consegue fazer passar leis pelo Congresso opta por regulamentos (…) é quase comunismo”. Quer isto significar que o falsete de Romney quando foi apanhado em privado a desprezar os “47% que vivem do Estado” não é bem um falsete, é mais uma ária largamente aplaudida por uma percentagem significativa da América mais recôndita e conservadora. Arrepiante, sobretudo quando o conservadorismo pode ganhar.

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