Foi um prazer ouvir a
serenidade pedagógica de Paul De Grauwe na conferência inaugural dos 50 anos do
ICS, aliás reiterada nas pequenas entrevistas que concedeu à comunicação social
portuguesa. Serenidade pedagógica que alinhava excecionalmente bem com o
enquadramento belíssimo da ampla janela horizontal do auditório 2 da
Gulbenkian. Tenho um fascínio por estas janelas. Divido-me entre esta e as
janelas também horizontais de Siza Vieira em Serralves.
A intervenção de De
Grauwe é muito pedagógica, sobretudo porque parte da fragilidade congénita da
arquitetura da união monetária da zona euro. E o que é relevante é que a
demonstração dessa fragilidade é feita a partir de evidências inequívocas. De
Grauwe mostra como países como o Reino Unido, por exemplo, com rácios de dívida
bem piores do que os da zona euro não estão sujeitos ao mesmo poder dos
mercados financeiros que exercem sobre os países sem soberania monetária e sem
um Banco Central que intervenha como emprestador de último recurso: “países que
se tornam insolventes apenas porque os investidores receiam a insolvência!”. A
fragilidade atinge governos e também os bancos, segundo uma cadeia de efeitos
que começa na venda massiva de títulos soberanos, subidas da taxa de juro e
fugas também massivas de liquidez.
A fragilidade congénita
da arquitetura do sistema abre caminho a contágios de proporções incalculáveis:
a crise das soberanas repercute-se na fragilidade da banca e esta última atinge
também os governos, suprimindo a atuação de estabilizadores naturais e gerando
situações de autopropagação de expectativas.
A proposta de De
Grauwe para superar esta fragilidade assenta em dimensões de curto (a ação do
BCE como emprestador de último recurso), médio (políticas macroeconómicas para
a zona euro, envolvendo países mais e menos desenvolvidos, segundo um modelo de
2 elementos para o tango) e longo prazo (consolidação de orçamentos nacionais e
níveis da dívida). É ainda particularmente crítico quanto à confusão hoje
existente nas funções do BCE: “bombeiro” e simultaneamente polícia (membro da
Troika), o que De Grauwe interpreta como perda de independência política.
Compreende-se que a
serenidade pedagógica de De Grauwe tenha incomodado o embaixador alemão
presente na sala. Como já referi no post anterior, essa serenidade não impediu
uma resposta firme e bem colocada às já incompreensíveis posições alemãs de
assumir o seu papel na recuperação dos desequilíbrios macroeconómicos da zona
euro.
Bem, em matéria de janelas´ que nos trazem a
ResponderEliminarpaisagem para dentro dos espaços de trabalho, tem também a do Auditório da Fundação Champalimaud quase oval e rasgada sobre o Tejo. De cortar a respiração, ao primeiro contacto.
A foto, em manhã de nevoeiro, não é feliz e valoriza mais os àvidos presentes na Sessão do "Novo QREN".
AONeves
http://www.ifdr.pt/content.aspx?menuid=22&eid=6456