Acima um gráfico evidenciando as projeções para o PIB português de
2011 a 2013 que foram sendo produzidas pelos sucessivos boletins económicos do
Banco de Portugal desde o Verão de 2010 (momento, aliás, em que Carlos Costa
assumiu a função de Governador) até ao recente Outono de 2012.
Claro que eu não desconheço que as projeções estão necessariamente
condicionadas pelo maior ou menor grau de incerteza que em cada momento envolve
o conjunto dos seus pressupostos, ou seja, a evolução das variáveis externas e
internas que neles mais relevantemente se exprimem.
Claro que eu não desconheço que “um processo de ajustamento não é
um concurso de previsões” (Vítor Gaspar, hoje na AR). Embora vá uma certa
distância desse facto à esotérica conversa sobre o tema que esta noite ouvi, na
“SIC Notícias”, entre Miguel Beleza e Augusto Mateus, com o primeiro a marcar o
ritmo citando descontextualizadamente Paul Samuelson (“previsão é algo que não
se deve fazer em economia”) e referindo jocosamente as vacas magras e as vacas
gordas como a única previsão económica que acertou desde Adão e Eva…
Passos é a melhor ilustração viva da tese de Beleza: em Agosto,
dizia que “o próximo ano não vai ser um ano de recessão” e hoje veio referir que “o
crescimento em Portugal está projetado acontecer, de uma forma sustentada, a
partir de 2014”, acrescentando ainda: “são as projeções que temos e elas são acompanhadas
nas previsões das principais instituições que se pronunciam em termos
internacionais nesta matéria”. Mais especificamente, Passos tinha ontem afirmado: “Temos
como cenário central uma queda de atividade durante este ano que pode atingir
até os 3% no final do ano. Mesmo que o quarto trimestre viesse a ter um nível
de quebra de atividade tão intenso quanto o terceiro, nós ficaríamos até um
pouco abaixo dos 3% de recessão. O que significa portanto que, dentro das más
notícias, o que os portugueses precisam de saber é que elas estão de acordo com
aquilo que nós estávamos à espera. (…) Repare, eu não quero desvalorizar as
previsões que o Banco de Portugal faz. Mas é importante anotar que o Banco de
Portugal como nós – como, de resto, o Banco Central Europeu, a Comissão
Europeia e o Fundo Monetário Internacional – prevê uma inversão de ciclo ao
longo do ano de 2013. E eu creio que essa é a matéria que é importante.”
Mas, diga-se o que se disser, eu ainda sou do tempo dos que creem que a
tendência fortemente decrescente evidenciada por aquelas três linhas coloridas
no gráfico tem o seu significado, não obviamente no sentido de comprovar qualquer
tipo de erro técnico por parte dos respetivos autores mas sim no sentido de sinalizar
uma visível degradação temporal da situação económica, os seus reflexos em
termos de expectativas de crescimento e tudo o mais que daí decorre. Se não me
engano, caros Miguel e Augusto, este é que é o ponto!
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