Algo perdido entre as boas perturbações de uma viagem a um Leste continental
semi-profundo (sobretudo para Yulia Tymoshenko e seus apoiantes acampados na Khreshchatyk)
e as más influências da merkúlea algazarra por cá instalada, perdi-me também no
“timing” de fazer a justa referência que se impunha ao último artigo de
Wolfgang Munchau no “Financial Times”. Procuro hoje, julgo que ainda em tempo,
corrigir a falha.
O tema glosado é, muito sugestivamente, o de uma interrogação em
torno da crise europeia, numa linha sequencial em relação ao artigo da semana
anterior em que usava a imagem de um coxo apoiado em muletas e sustentava: “não consigo ver nenhuma mudança fundamental na
situação – exceto que o BCE removeu o risco de acidentes a curto prazo”.
·
Quanto
à solvência de várias entidades na Zona Euro: “Na primeira categoria [risco
soberano puro], considero que a Grécia é incondicionalmente insolvente; que a
Itália e Portugal são solventes – sob condição de um regresso a um crescimento
sustentável. Considero as dívidas soberanas de Espanha, Irlanda e restantes
fundamentalmente solvente – menos os bancos, claro. Na segunda categoria [riscos
surgidos puramente no setor privado financeiro e não financeiro], considero insolventes
os setores privado e financeiro de Espanha, Portugal e Irlanda.”
·
Quanto
à potencial melhoria da solvência das várias entidades (dadas as correntes escolhas
de política): “Temos de assumir pressupostos arrojados quanto ao futuro – “rollover”
continuado, separação dos riscos bancário e soberano, disponibilidade para
transferências orçamentais, disponibilidade para abandonar a austeridade –,
todas elas em completo contraste em relação às políticas oficialmente
anunciadas.”; e assim conclui que “a solvência depende, portanto, da hipótese
de a política oficial ser uma mentira”.
Em suma: a acalmia (europeia) em que vivemos é claramente ilusória
e o atualmente prevalecente compasso de espera poderá não estar longe de se ver
abalado pela força das inevitabilidades subjacentes…
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