domingo, 11 de novembro de 2012

TENSÕES À ESPREITA


 
Algo perdido entre as boas perturbações de uma viagem a um Leste continental semi-profundo (sobretudo para Yulia Tymoshenko e seus apoiantes acampados na Khreshchatyk) e as más influências da merkúlea algazarra por cá instalada, perdi-me também no “timing” de fazer a justa referência que se impunha ao último artigo de Wolfgang Munchau no “Financial Times”. Procuro hoje, julgo que ainda em tempo, corrigir a falha.

O tema glosado é, muito sugestivamente, o de uma interrogação em torno da crise europeia, numa linha sequencial em relação ao artigo da semana anterior em que usava a imagem de um coxo apoiado em muletas e sustentava: “não consigo ver nenhuma mudança fundamental na situação – exceto que o BCE removeu o risco de acidentes a curto prazo”.


 Procurando agora aprofundar as razões pelas quais considera continuar pessimista sobre a solvência da Europa – assumindo explicitamente, portanto, que a crise é desta natureza e não uma mera crise de liquidez –, Munchau deixa-nos vários elementos da maior utilidade para análise e reflexão. Retenho os seguintes e elucidativos dois tópicos interligados:

·         Quanto à solvência de várias entidades na Zona Euro: “Na primeira categoria [risco soberano puro], considero que a Grécia é incondicionalmente insolvente; que a Itália e Portugal são solventes – sob condição de um regresso a um crescimento sustentável. Considero as dívidas soberanas de Espanha, Irlanda e restantes fundamentalmente solvente – menos os bancos, claro. Na segunda categoria [riscos surgidos puramente no setor privado financeiro e não financeiro], considero insolventes os setores privado e financeiro de Espanha, Portugal e Irlanda.”

·         Quanto à potencial melhoria da solvência das várias entidades (dadas as correntes escolhas de política): “Temos de assumir pressupostos arrojados quanto ao futuro – “rollover” continuado, separação dos riscos bancário e soberano, disponibilidade para transferências orçamentais, disponibilidade para abandonar a austeridade –, todas elas em completo contraste em relação às políticas oficialmente anunciadas.”; e assim conclui que “a solvência depende, portanto, da hipótese de a política oficial ser uma mentira”.

Em suma: a acalmia (europeia) em que vivemos é claramente ilusória e o atualmente prevalecente compasso de espera poderá não estar longe de se ver abalado pela força das inevitabilidades subjacentes…

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