Ainda no mesmo “Quadratura do Círculo”, pareceram vir finalmente ao de cima alguns compromissos dificilmente conciliáveis num Lobo Xavier cuja tibieza contrastou com as pragmáticas certezas de António Costa. Embora estas, infelizmente, de muito duvidosa aplicabilidade – como seja: “O que é necessário fazer é ser realista. E o que é que é ser realista? Ser realista é o Governo ter que chamar os parceiros e dizer: ‘meus amigos, este caminho, está demonstrado, não produziu os seus resultados’. (…) Este memorando tem que ser renegociado. (…) Não é ajustar, ouça, já não estamos em momento de ajustar, já nem é uma questão de meia dose, nem é uma questão de mais tempo, é necessário um programa diferente.”
Pacheco Pereira - já o suspeitávamos - é bem menos otimista/voluntarista
do que Costa. Assim o veio exprimir no seu notável artigo de sábado no “Público” (“Os
intelectuais e a ‘anulação do destino’”), tão deprimente quanto lúcido. Nele se
fala, temo que em termos largamente apropriados, de sofrimento e de um futuro que
acabou para muitas gerações às mãos de um “glorioso plano de ‘refundar’
Portugal como um país estruturalmente pobre”…
Volto àquele programa televisivo. Onde a
intervenção de António Costa valeu, sobretudo, pela escorreita síntese
expositiva que fez sobre o passado recente que nos trouxe até aqui. Assim: “O
acordo começou mal, começou mal. Porque, por razões que têm a ver com a
política nacional, este acordo teve de ser negociado por um Governo que estava
demitido, a dois meses de eleições, que negociava a meias com o partido da
oposição; que estava simultaneamente a fazer oposição ao Governo mas
simultaneamente através do dr. António Borges na direção do FMI, através do dr.
Durão Barroso na direção da Comissão Europeia e através do professor Gaspar no
Banco Central Europeu e, com os relatos que hoje são públicos e que toda a
gente conhece, com uma atuação calamitosa do dr. Eduardo Catroga e outros
personagens… E, portanto, este acordo foi negociado por um Governo que já não
existia, por um País que estava em estado de necessidade e que, portanto, tinha
a postura negocial que tem a credibilidade que um prisioneiro sob tortura tem
relativamente à verdade. E, portanto, isto desde o princípio esteve
mal.”
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