sábado, 3 de novembro de 2012

CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL



Nestes tempos de desnorte de governação, de comportamentos políticos erráticos e de Presidente ausente (Maria terá dito: Aníbal, protege-te e resguarda-te que os tempos vão difíceis e tumultuosos e já não são para a tua idade!), há quem sonhe com um D. Sebastião de salvação nacional (atenção à delícia de crónica de Vasco Pulido Valente no Público de hoje). Cá por mim, prefiro instituições que funcionem e que sejam plataformas de geração de soluções não entusiásticas com sebastianismos providenciais, que apostem nas energias nacionais que as há, apesar da subserviência reinante.
Se calhar influenciado por serem dirigidas por amigos de longa data (sim, apesar de não pertencer às tribos lisboetas), o Conselho Económico e Social (CES) e o Banco de Portugal (BdP) são duas instituições que cumprem esse papel de suportes empenhados e fundamentados da democracia, frágil mas viva e não sob rendição, apesar de resgatada.
Hoje, cumpre-me falar do CES, âmago da concertação social. E o que espanta nesta matéria é como, ministro atrás de ministro, o atual governo tem hipotecado um potencial de concertação entre parceiros sociais que talvez nunca tenha existido na sociedade portuguesa. É confrangedor o modo como a inépcia e a falta de cultura de concertação de alguns ministros atropelam a estabilidade de relacionamento alcançada.
Não tenho hoje dúvidas de que, apesar das assimetrias e desencontros de opinião e de posições, o conhecimento que atravessa hoje as atividades do CES, as suas inúmeras comissões e grupos de trabalho, os seus pareceres (vejam-se o seu parecer sobre o Orçamento de 2013 e antes a sua posição sobre a TSU) é espesso, bem identificado com o país profundo e os seus principais constrangimentos estruturais, bem mais consistente do que o que ressalta do arrivismo económico e político entrincheirados na maioria. O país estaria melhor defendido se o CES fosse um interlocutor regular da Troika e das autoridades internacionais que a lideram.
Admito que entre o CES e o BdP existam relações regulares de troca de conhecimento para bem do rigor e da fundamentação de linhas para o debate.
Dificilmente encontraremos no quadro institucional atual uma outra instituição que não tenha quebrado os laços do diálogo, que tenha resistido a crispação fácil, que procure consensos para além da irreversibilidade das posições de trincheira. Mérito para quem a dirige e anima, mas também muito mérito para os que a dignificam na sua atividade regular de participação nas suas iniciativas.
Creio que no atual quadro institucional não haverá instituição melhor preparada para um início de discussão do tema que não pode ser tabu das funções do Estado ao serviço de uma recuperação sustentável da economia portuguesa.

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