Tenho várias vezes procurado chamar a
atenção neste espaço para uma deplorável fatalidade do modo de estar lusitano
que, pessoalmente, me provoca irritações dermatológicas e, coletivamente, nos está
a corroer. Mas o talento da minha escrita fica bem aquém do de Clara Ferreira
Alves, pelo que me explico com referência ao seu artigo de hoje na revista do
“Expresso” (“Um País das Caldas”). Que termina assim: “O nosso desejo de
agradar, de servir, perde-nos. E faz-nos perder o respeito por nós próprios”.
Pois é isso mesmo. E daí que, como
também diz Clara: “Outros países estão a conseguir atravessar a crise da dívida
com a dignidade intacta. A Islândia atravessou a bancarrota com realismo, a
Irlanda tem um estoicismo indissolúvel na abjeção, a Espanha mantem um decoro
patriótico no meio da desagregação, a Grécia combate e esperneia no meio de
escândalos sem perder a face. Portugal resolveu transformar-se num país
habitado por bonecos das Caldas.”
Clara concretiza usando a recente visita
de Merkel a Lisboa (ilustração de João Fazenda na “Visão”): “Podíamos passar o dia com uma medida de rigor e
profissionalismo, sem nos expormos ao ridículo. Sem passarmos o tempo a curvar
a espinha e ouvir ralhetes. Nunca ouvi Merkel ralhar com os irlandeses, os
italianos ou os espanhóis, em público. Aquele discurso não seria tolerado em
Atenas ou Madrid. Aqui é aplaudido.”
Que lonjura em relação àquela “ditosa
Pátria que tais filhos tem”!
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