quinta-feira, 29 de novembro de 2012

AS CIÊNCIAS SOCIAIS NOS MEDIA

(Tratamento próprio com dados do GPEARI - MEC)

Entre tantos outros motivos de interesse, a Conferência dos 50 anos do ICS trouxe também à ribalta das minhas reflexões o campo fascinante da relação entre a investigação nas ciências sociais e os media.
Aquilo que fica da iniciativa permite-me concluir que o ICS, para além do seu potencial inequívoco de produção de conhecimento que honra de sobremaneira a herança de Adérito Sedas Nunes, tem um particular know-how de disseminação das ideias e resultado de investigação que vai produzindo. Essa capacidade foi visível no modo como a conferência inaugural e a mesa-redonda final foram moderadas por jornalistas experientes e de grande notoriedade (respetivamente Ricardo Costa e António José Teixeira), o que só por si assegura desde logo uma grande divulgação do evento. Além disso, através de entrevistas e reportagens com alguns dos intervenientes, foi possível obter espaço de divulgação em órgãos de informação apropriados (Público e SIC Notícias, por exemplo).
Exemplos: a SIC Notícias dedicou, pelo menos, um espaço de conversa moderado por Ana Lourenço (como gostaria de ser moderado pela Ana Lourenço!) com participação de Luísa Schmidt, Fátima Bonifácio, Jorge Vala (Presidente atual do ICS) e Viriato Soromenho Marques em que as questões da relação entre a produção de conhecimento, as políticas públicas, a liberdade e a sociedade foram discutidas, sem pressas, sem a preocupação do sound byte que mina frequentemente a relação de comunicação do investigador com o público. A análise de Pierre Bourdieu “Sobre a Televisão” representa neste domínio a desmontagem mais impiedosa das armadilhas comunicacionais que a televisão coloca aos cientistas e Edgar Morin tem aquela máxima magnífica de que o tempo da televisão nos obriga a descrever e explicar acontecimentos cada vez mais complexos em cada vez menos tempo, abrindo caminho à vulgaridade. Poucas horas depois da sessão Território e Desordens, o Público on line dedicava um espaço relevante aos dados preliminares da investigação de João Ferrão sobre a geografia da crise que comentei em post anterior.
Como é óbvio, a proximidade física do ICS ao centro comunicacional da aglomeração da capital tem aqui um papel relevante. Mas há também a presença regular e sistemática nos jornais e na televisão de nomes como António Costa Pinto, Luísa Schmidt, Rui Ramos, Manuel Villaverde Cabral, Pedro Magalhães, Pedro Lains e alguns outros.
Nos próximos tempos, será interessante seguir a evolução comparativa neste campo dos dois principais “think tanks” das ciências sociais, o ICS (Lisboa) e o CES (Coimbra), com a pimenta adicional do conhecimento produzido nestes centros acabar por se articular com universos políticos não convergentes.
Como pano de fundo de toda esta reflexão, não deve ignorar-se o enorme gap que existe entre a investigação científica internacionalmente reconhecida na área das ciências sociais e humanidades versus a que é produzida na área das ciências exatas, naturais, engenharias, saúde e agrárias. O gráfico que abre este post é disso uma eloquente evidência. As ciências sociais bem precisam de reconhecimento social para resistirem a este gap e à sanha do desempenho-eficiência-produtividade que também chegará à ciência e tecnologia.

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