(Tratamento próprio com dados do GPEARI - MEC)
Entre tantos outros
motivos de interesse, a Conferência dos 50 anos do ICS trouxe também à ribalta
das minhas reflexões o campo fascinante da relação entre a investigação nas ciências
sociais e os media.
Aquilo que fica da
iniciativa permite-me concluir que o ICS, para além do seu potencial inequívoco
de produção de conhecimento que honra de sobremaneira a herança de Adérito
Sedas Nunes, tem um particular know-how
de disseminação das ideias e resultado de investigação que vai produzindo. Essa
capacidade foi visível no modo como a conferência inaugural e a mesa-redonda
final foram moderadas por jornalistas experientes e de grande notoriedade
(respetivamente Ricardo Costa e António José Teixeira), o que só por si
assegura desde logo uma grande divulgação do evento. Além disso, através de
entrevistas e reportagens com alguns dos intervenientes, foi possível obter
espaço de divulgação em órgãos de informação apropriados (Público e SIC Notícias,
por exemplo).
Exemplos: a SIC Notícias
dedicou, pelo menos, um espaço de conversa moderado por Ana Lourenço (como
gostaria de ser moderado pela Ana Lourenço!) com participação de Luísa Schmidt,
Fátima Bonifácio, Jorge Vala (Presidente atual do ICS) e Viriato Soromenho
Marques em que as questões da relação entre a produção de conhecimento, as políticas
públicas, a liberdade e a sociedade foram discutidas, sem pressas, sem a
preocupação do sound byte que mina
frequentemente a relação de comunicação do investigador com o público. A análise
de Pierre Bourdieu “Sobre a Televisão” representa neste domínio a desmontagem
mais impiedosa das armadilhas comunicacionais que a televisão coloca aos
cientistas e Edgar Morin tem aquela máxima magnífica de que o tempo da televisão
nos obriga a descrever e explicar acontecimentos cada vez mais complexos em
cada vez menos tempo, abrindo caminho à vulgaridade. Poucas horas depois da
sessão Território e Desordens, o Público
on line dedicava um espaço relevante
aos dados preliminares da investigação de João Ferrão sobre a geografia da
crise que comentei em post anterior.
Como é óbvio, a
proximidade física do ICS ao centro comunicacional da aglomeração da capital
tem aqui um papel relevante. Mas há também a presença regular e sistemática nos
jornais e na televisão de nomes como António Costa Pinto, Luísa Schmidt, Rui
Ramos, Manuel Villaverde Cabral, Pedro Magalhães, Pedro Lains e alguns outros.
Nos próximos tempos,
será interessante seguir a evolução comparativa neste campo dos dois principais
“think tanks” das ciências sociais, o
ICS (Lisboa) e o CES (Coimbra), com a pimenta adicional do conhecimento
produzido nestes centros acabar por se articular com universos políticos não
convergentes.
Como pano de fundo de
toda esta reflexão, não deve ignorar-se o enorme gap que existe entre a investigação científica internacionalmente
reconhecida na área das ciências sociais e humanidades versus a que é produzida
na área das ciências exatas, naturais, engenharias, saúde e agrárias. O gráfico
que abre este post é disso uma
eloquente evidência. As ciências sociais bem precisam de reconhecimento social
para resistirem a este gap e à sanha do desempenho-eficiência-produtividade que
também chegará à ciência e tecnologia.
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