quinta-feira, 8 de novembro de 2012

PORTUGAL E GRÉCIA, A MESMA LUTA?


Os “artistas” que nos governam continuam a encher a boca com os gregos que os portugueses alegadamente não são nem querem ser. Uns será por patriotismo e outros por pura fé, mas grassa também no seio deles aquela dose de ignorância que o povo ensina ser má conselheira e mãe do atrevimento. Vale a pena, por isso, voltarmos aos gráficos (clicar sobre a imagem para melhor visualização).

 
Escolho novamente uma feliz síntese do “Financial Times” em que o comportamento e as projeções mais recentes de três indicadores basilares (a dívida pública, o défice orçamental e o crescimento da economia) surgem, desta vez, evidenciados à luz da realidade posterior ao resgate de 174 mil milhões de euros de há apenas oito meses (a laranja o que então foi acordado entre as partes ou, talvez melhor, imposto pela Troika; a azul o que entretanto ocorreu e se prevê até 2016) – são precisas mais palavras?

Em qualquer das variáveis, uma realidade que sempre ultrapassa os piores cenários precedentes, numa infindável espiral. Vejamos, por exemplo, o caso gritante da dívida pública: o acordo de Março apontava para que a mesma atingisse um pico de 167% do PIB no próximo ano, mas agora já se fala de 189% neste ano e de 192% em 2014. E, ainda, de um protelamento da meta de 120% do PIB em 2020 para um valor de 125% em 2022.

Mas há também um permanente paradoxo presente em toda esta matéria: o tão proclamado como indesejável incumprimento dos gregos resulta em causa de preocupação para os seus credores e as autoridades europeias, o que contrasta com as crescentes exigências dos mesmos em relação aos humildes e honrados portugueses, agora a braços com a necessidade de encontrarem mais 4 mil milhões de cortes de natureza estruturante. Ontem mesmo, o frígido comissário Olli Rehn disso veio fazer eco ao referir que a situação grega é “crescentemente insustentável sem novas medidas dirigidas à redução da dívida” e ao anunciar estarem em preparação medidas nesse sentido (“uma combinação de fatores relacionados com a duração das maturidades e o nível das taxas de juro dos empréstimos oficiais”).


É certo que, entretanto, o Parlamento grego lá fez ontem o que se lhe pedia – com Samaras a jurar que esta dose de medicamentação será “the final one” –, aprovando por escassa diferença (153 votos a favor, 128 contra e 18 abstenções) um enésimo plano de austeridade (estimado em 13,5 mil milhões de euros e incluindo, entre outros, uma nova redução de 5 a 35% nas pensões e nos salários dos funcionários públicos, um aumento da idade da reforma para os 67 anos e aumentos nos encargos associados à coberta pública da saúde). Não obstante, tal aprovação ocorre num contexto de grande asfixia financeira perante o bloqueamento de uma tranche da “ajuda” (31,5 mil milhões de euros) e num quadro de recrudescimento do protesto e da violência nas ruas e de visível aumento das divisões político-partidárias que constituem péssimos augúrios para o próximo futuro (instabilidade social imparável, ingovernabilidade e riscos de soluções políticas autoritárias, Grexit…).
 
Haverá um fim para aquela mentira infame que nos irá conduzir a um inexorável destino?

Sem comentários:

Enviar um comentário