domingo, 11 de novembro de 2012

ALGUMA COISA MUDOU



Parece paradoxal que depois de um post “A oeste nada de novo” vos proponha um outro com este título. Mas não é paradoxo.
“A oeste nada de novo”procurava sublinhar a contradição que existe entre a aceleração do tempo político e do fosso da economia portuguesa e a cristalização das alternativas de governação. Agora pretendo fixar-me numa das mais relevantes mudanças que atravessaram o já tempo longo da democracia em Portugal.
O meu foco é de novo mais uma entrevista de Anabela Mota Ribeiro na revista do Público de domingo. Não tenho nenhuma fixação em particular pela jornalista. Mas não tenho dúvidas em considerar as suas entrevistas como documentos cruciais de história futura da sociedade portuguesa, por conseguinte a preservar num arquivo digital seletivo e crucial do que mexeu no país após a sua transição para a democracia. E a sua entrada, hoje, no universo mais íntimo de Alexandre Quintanilha e de Richard Zimler não foge a essa regra, configurando uma entrevista que é uma peça rara de sensibilidade, de afloração do mais íntimo de uma relação sem invadir o universo da privacidade.
Ao contrário de alguns, sempre considerei que o fator mais decisivo das mudanças ocorridas na sociedade portuguesa não foi o aumento sustentado do rendimento per capita que protagonizou um longo movimento de convergência com os padrões europeus. Esse aumento não foi infelizmente irreversível, como o provam inequivocamente o declínio e empobrecimento em que estamos mergulhados. O que verdadeiramente mudou na sociedade portuguesa foram os padrões culturais e os valores, a emergência de um sociedade tolerante, a liberdade de ser como se quer ser, a forma como encaramos a relação com o corpo, a forma como o evidenciamos. Por mais que as Jonet deste mundo roam as suas unhas até ao sabugo e os gurus dos valores mais tradicionais se empenhem no contrário, a sociedade portuguesa mudou, libertou-se das teias mais pesadas do conservadorismo, admitindo e convivendo com a liberdade do outro. E isso ninguém nos pode tirar.
A peça de Anabela Mota Ribeiro é uma jóia de evidência dessa mudança.

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