Era-me muito familiar aquela
figura que ontem surgiu no pequeno ecrã sendo entrevistado pelo sempre atento e
visionário Mário Crespo. Conheci-o bem – na Faculdade de Economia do Porto, na
Comissão de Coordenação da Região do Norte, no Centro de Estudos Europeus da
Universidade Católica, no Comité Económico e Social, na Secretaria de Estado do
Comércio Externo –, até que lhe fui perdendo o rasto. Mas ali estava ele, o
António Neto da Silva de sempre, simpático, bem-falante, quase convincente…
Mas as novidades não
iriam ficar-se por este distante reencontro. E, em alguns casos, trouxeram
mesmo motivos de espanto. Fiquei a saber que a indústria a que Neto está atualmente
ligado, enquanto presidente da Proespaço – Associação Portuguesa das Indústrias
do Espaço, “é uma indústria extraordinária para o próprio país”. Porque,
explicou, é uma indústria de alta elasticidade-rendimento, é 100% exportadora –
“no sentido exato dos 100%” ao exportar massa cinzenta portuguesa –, apresenta
um valor acrescentado por colaborador quatro vezes superior à média nacional,
tem um efeito multiplicador sobre o rendimento de dois, é o único setor que
Neto conhece “em que empresas de relativamente pequena dimensão (como são as
empresas portuguesas da área do espaço), quando têm o conhecimento fundamental
para um projeto, subcontratam gigantes europeus”, corresponde a um dos seis
setores tecnologicamente mais desenvolvidos a nível mundial e, finalmente, é um
setor onde Portugal, em determinados nichos, é líder mundial.
Fiquei também a saber que a Proespaço
representa 14 empresas, valendo mais de 95% da oferta nacional do setor espaço,
e “com alguma concentração em Lisboa, alguma concentração em Coimbra e alguma
concentração no Porto”.
Fiquei ainda a saber que ontem se
comemorava o fim de um risco que terá estado iminente. A saber: “Em Portugal,
de facto, existiu o risco, primeiro quando há um ano começamos a falar com os
governantes, de Portugal poder mesmo sair da Agência Espacial Europeia. Depois,
de Portugal reduzir drasticamente a subscrição de programas opcionais, que são
os programas da Agência Espacial Europeia que cada país tem que subscrever para
que as empresas desse país possam concorrer a esse trabalho na área do espaço.
(…) O que daria como consequência, de facto, a fuga de cerca de 250 cérebros;
mas era uma fuga, repare, nem era eles estarem disponíveis para ir para fora,
eles seriam sugados pelas grandes empresas do centro da Europa e nós perdíamos,
por um lado perdíamos o “cluster” e por outro lado acabávamos por entrar numa
espiral de pobreza (…)”.
Perante este tenebroso cenário potencial
para um setor com “um conhecimento acumulado durante estes doze anos”,
aquilo que aconteceu foi que “finalmente, o Estado definiu uma prioridade e
acabou por subscrever ontem 17 e meio milhões para os próximos três anos”
(cerca de metade dos 36 milhões pedidos mas, ainda assim, significando um
crescimento de 20% em relação à subscrição de 2008). E a quem devemos agradecer
tão patriótica deliberação? Lendo nas entrelinhas das palavras de Neto, julgo depararmo-nos
com tais estrategas: primeiro, “um cumprimento muito especial, quer para o
ministro da Economia quer para o Secretário de Estado dos Transportes”;
segundo, “em princípio, só o ministério da Ciência e o ministério dos
Transportes, portanto, é que financiavam os programas”; terceiro, “na Proespaço,
nós entendemos que o ministério da Economia, o ministério do Ambiente – que
também é da Agricultura agora –, o ministério da Administração Interna são
ministérios que têm tudo a ver com a área do espaço e, portanto, deviam
trabalhar em conjunto e financiar em conjunto; não acontecia antes, mas está a
acontecer agora.
Tudo somado e subtraído, o que mais
parece adquirido – como a dada altura muito bem disse António Neto da Silva – é
que “a área do espaço é invenção permanente”…
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