Pela mão de duas colegas mais jovens – Ester Silva (Instituto de
Sociologia, Faculdade de Letras, UP) e Aurora Teixeira (CEF, Faculdade de
Economia, UP) – e da sua capacidade de iniciativa – no caso, a organização de
uma interessante conferência internacional subordinada ao tema “Structural
Change, Education and Growth in the European Periphery” –, quase regressei hoje (trinta anos passados!)
a Paris I, Tolbiac. O conferencista era o mesmo Robert Boyer de então e a
assistência também incluía a Margarida Ruivo e a Pilar Gonzalez – uma estranha mas
confortável sensação de “déjà vu”!
Refiro-me aqui à sessão plenária de abertura, presidida por José
Madureira Pinto – que, sempre rigoroso e estimulante, produziu uma alocução
inicial ao seu melhor nível e dentro da sua coerente linha de apelo à
interdisciplinaridade e ao diálogo entre economistas e sociólogos – e tendo por
orador principal o atrás referenciado professor francês.
Impossível sintetizar neste espaço o muito que Boyer nos passou ao
longo da sua brilhantísima intervenção, que o próprio apresentou como
pretendendo realizar um sobrevoo de vinte anos de investigação pessoal (tão
dedicada quanto rica, acrescento eu). Retenho apenas um esquema ilustrativo (ver
abaixo) e algumas expressões sugestivas, como sejam as de uma “divergência
insustentável dos sistemas produtivos e das trajetórias nacionais” (gerada pelo
euro), de um “desdobramento de tendências endógenas provocadas pelo euro”
(versus choques externos adversos), de uma “economia política da viabilidade do
euro”, de uma componente central da crise decorrente da afirmação da globalização
financeira, de uma observada “negligência da legitimação política do euro”, de
um “Reno maior que o Atlântico” (aludindo às diferenças de interpretação
nacional dos mesmos tratados), de um “drama europeu associado a ter de fazer
convergir todo o ajustamento nos mercados de trabalho”, de uma “cobra a morder
a própria cauda” (traduzindo o atual círculo vicioso da crise europeia), de uma
incompatibilidade fundamental de objetivos e interesses entre os grandes atores
identificáveis (finança global, Conselho Europeu, governos nacionais, Banco
Central Europeu e Comissão Europeia), de uma “Zona Euro tornada um jogo de soma
negativa”, de uma enorme indeterminação das saídas de crise e correspondente
variabilidade de configurações pensáveis ou de uma “complexidade sem
precedentes”.
Robert Boyer é hoje uma figura de enorme notoriedade e reputação internacional.
Mas saí reforçadamente convencido de que, não fora ele francês, estaríamos
perante um economista talhado para o mais elevado grau de reconhecimento planetário…
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