sexta-feira, 9 de novembro de 2012

ROBERT BOYER NO PORTO



Pela mão de duas colegas mais jovens – Ester Silva (Instituto de Sociologia, Faculdade de Letras, UP) e Aurora Teixeira (CEF, Faculdade de Economia, UP) – e da sua capacidade de iniciativa – no caso, a organização de uma interessante conferência internacional subordinada ao tema “Structural Change, Education and Growth in the European Periphery” –, quase regressei hoje (trinta anos passados!) a Paris I, Tolbiac. O conferencista era o mesmo Robert Boyer de então e a assistência também incluía a Margarida Ruivo e a Pilar Gonzalez – uma estranha mas confortável sensação de “déjà vu”!

Refiro-me aqui à sessão plenária de abertura, presidida por José Madureira Pinto – que, sempre rigoroso e estimulante, produziu uma alocução inicial ao seu melhor nível e dentro da sua coerente linha de apelo à interdisciplinaridade e ao diálogo entre economistas e sociólogos – e tendo por orador principal o atrás referenciado professor francês.

Impossível sintetizar neste espaço o muito que Boyer nos passou ao longo da sua brilhantísima intervenção, que o próprio apresentou como pretendendo realizar um sobrevoo de vinte anos de investigação pessoal (tão dedicada quanto rica, acrescento eu). Retenho apenas um esquema ilustrativo (ver abaixo) e algumas expressões sugestivas, como sejam as de uma “divergência insustentável dos sistemas produtivos e das trajetórias nacionais” (gerada pelo euro), de um “desdobramento de tendências endógenas provocadas pelo euro” (versus choques externos adversos), de uma “economia política da viabilidade do euro”, de uma componente central da crise decorrente da afirmação da globalização financeira, de uma observada “negligência da legitimação política do euro”, de um “Reno maior que o Atlântico” (aludindo às diferenças de interpretação nacional dos mesmos tratados), de um “drama europeu associado a ter de fazer convergir todo o ajustamento nos mercados de trabalho”, de uma “cobra a morder a própria cauda” (traduzindo o atual círculo vicioso da crise europeia), de uma incompatibilidade fundamental de objetivos e interesses entre os grandes atores identificáveis (finança global, Conselho Europeu, governos nacionais, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), de uma “Zona Euro tornada um jogo de soma negativa”, de uma enorme indeterminação das saídas de crise e correspondente variabilidade de configurações pensáveis ou de uma “complexidade sem precedentes”.


 Robert Boyer é hoje uma figura de enorme notoriedade e reputação internacional. Mas saí reforçadamente convencido de que, não fora ele francês, estaríamos perante um economista talhado para o mais elevado grau de reconhecimento planetário…

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