segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O REGRESSO DE TRIBOLET



Já há muito tempo que o nome de José Tribolet (Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico) e um dos fundadores do projeto INESC, que haveria posteriormente de se fraturar com a autonomização do projeto INESC-Porto, não passava pela comunicação social.
José Tribolet faz parte de um grupo notável de investigadores que chegaram a Portugal na década de 80 com os seus Phd’s concluídos em algumas das melhores universidades europeias e americanas e que protagonizaram o ressurgimento da universidade portuguesa sobretudo nas componentes tecnológicas mais avançadas. Esse grupo dividiu-se sobretudo por Lisboa e Porto, mas também por Aveiro e Coimbra, sendo também a raiz da inovação institucional que a criação de interfaces Universidade-empresa, com forte componente de investigação, haveria de representar, revolucionando a produção científica em Portugal e a transferência de conhecimento para o mundo empresarial.
O percurso de Tribolet desde o seu doutoramento no MIT e a sua passagem como investigador pelo Accoustics Research Department dos Laboratórios Bell (com o qual continuou a colaborar), nos EUA, é de facto notável, claramente proporcional ao seu ego interventivo, por vezes visionário, que o transformou à época num dos elementos mais mediáticos da sua geração. Uma grande parte dos elementos deste grupo poderia ter ficado nos seus laboratórios onde fizeram carreira de investigação e onde se inocularam com o bichinho da transferência de conhecimento para o ambiente empresarial. A opção de regressarem foi, na altura, corajosa e a esse regresso se deve a meu ver, por mais controversas que tenham sido as suas atuações futuras, o rejuvenescimento da universidade portuguesa.
Por razões que desconheço, nos últimos tempos o protagonismo de Tribolet situou-se em níveis bem abaixo do que estávamos habituados. Foi, por isso, com curiosidade que, numa passagem furtiva pela TSF, o ouvi, desabrido e contendente como sempre, pronunciar-se sobre mais uma trapalhada comunicacional da governação com selo Miguel Relvas.
No caso vertente, esteve em causa a comunicação em torno de um estudo que o governo terá realizado sobre o estado das bases de dados da administração pública, a qual sugeria que tais bases poderiam migrar para uma entidade gestora privada, segundo um modelo do tipo “nuvem tecnológica”.
O “regresso” de Tribolet faz-se na pele de elemento do Grupo de Projeto para as Tecnologias de Informação e Comunicação e, com o seu estilo contundente e contra todos, procurando esclarecer o “non sense” da algazarra criada em torno do tema. Em primeiro lugar, afirmando liminarmente que a solução de reorganização dessas bases de dados nunca implicaria a sua centralização e guarda por uma empresa privada. Mas, mais importante do que essa dimensão, é a denúncia feita por Tribolet do errado entendimento de que o mero depósito dessas bases em entidades públicas garanta a sua segurança. E aqui dou o benefício da dúvida a quem conhece fortemente o estado dessas bases. Não me custa nada acreditar que o estado de segurança em que as principais bases públicas de informação, incluindo as mais sensíveis, se encontram seja calamitoso, senão caótico. De facto, as intervenções casuísticas de consultoria técnica a que os diferentes serviços públicos recorrem, a fragilidade técnica dos interlocutores públicos nessas matérias e os cortes orçamentais cegos podem estar a produzir uma situação potencialmente explosiva. A passagem do saudoso Diogo Vasconcelos por estas matérias foi demasiado prematura. A fragilidade de segurança que essas bases poderão apresentar coloca o cidadão comum numa situação de total desproteção. E saber que o assunto está sob a alçada de Miguel Relvas adensa ainda mais essas preocupações.

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