Já há muito tempo que
o nome de José Tribolet (Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico) e
um dos fundadores do projeto INESC, que haveria posteriormente de se fraturar
com a autonomização do projeto INESC-Porto, não passava pela comunicação
social.
José Tribolet faz
parte de um grupo notável de investigadores que chegaram a Portugal na década
de 80 com os seus Phd’s concluídos em algumas das melhores universidades
europeias e americanas e que protagonizaram o ressurgimento da universidade
portuguesa sobretudo nas componentes tecnológicas mais avançadas. Esse grupo
dividiu-se sobretudo por Lisboa e Porto, mas também por Aveiro e Coimbra, sendo
também a raiz da inovação institucional que a criação de interfaces Universidade-empresa,
com forte componente de investigação, haveria de representar, revolucionando a
produção científica em Portugal e a transferência de conhecimento para o mundo
empresarial.
O percurso de Tribolet
desde o seu doutoramento no MIT e a sua passagem como investigador pelo Accoustics Research Department dos
Laboratórios Bell (com o qual continuou a colaborar), nos EUA, é de facto notável,
claramente proporcional ao seu ego interventivo, por vezes visionário, que o
transformou à época num dos elementos mais mediáticos da sua geração. Uma
grande parte dos elementos deste grupo poderia ter ficado nos seus laboratórios
onde fizeram carreira de investigação e onde se inocularam com o bichinho da transferência
de conhecimento para o ambiente empresarial. A opção de regressarem foi, na
altura, corajosa e a esse regresso se deve a meu ver, por mais controversas que
tenham sido as suas atuações futuras, o rejuvenescimento da universidade
portuguesa.
Por razões que
desconheço, nos últimos tempos o protagonismo de Tribolet situou-se em níveis
bem abaixo do que estávamos habituados. Foi, por isso, com curiosidade que, numa passagem furtiva pela TSF, o ouvi, desabrido e contendente como sempre, pronunciar-se
sobre mais uma trapalhada comunicacional da governação com selo Miguel Relvas.
No caso vertente, esteve
em causa a comunicação em torno de um estudo que o governo terá realizado sobre
o estado das bases de dados da administração pública, a qual sugeria que tais
bases poderiam migrar para uma entidade gestora privada, segundo um modelo do
tipo “nuvem tecnológica”.
O “regresso” de
Tribolet faz-se na pele de elemento do Grupo de Projeto para as Tecnologias de
Informação e Comunicação e, com o seu estilo contundente e contra todos,
procurando esclarecer o “non sense” da algazarra criada em torno do tema. Em
primeiro lugar, afirmando liminarmente que a solução de reorganização dessas
bases de dados nunca implicaria a sua centralização e guarda por uma empresa
privada. Mas, mais importante do que essa dimensão, é a denúncia feita por Tribolet
do errado entendimento de que o mero depósito dessas bases em entidades públicas
garanta a sua segurança. E aqui dou o benefício da dúvida a quem conhece
fortemente o estado dessas bases. Não me custa nada acreditar que o estado de
segurança em que as principais bases públicas de informação, incluindo as mais
sensíveis, se encontram seja calamitoso, senão caótico. De facto, as intervenções
casuísticas de consultoria técnica a que os diferentes serviços públicos
recorrem, a fragilidade técnica dos interlocutores públicos nessas matérias e
os cortes orçamentais cegos podem estar a produzir uma situação potencialmente
explosiva. A passagem do saudoso Diogo Vasconcelos por estas matérias foi
demasiado prematura. A fragilidade de segurança que essas bases poderão
apresentar coloca o cidadão comum numa situação de total desproteção. E saber
que o assunto está sob a alçada de Miguel Relvas adensa ainda mais essas
preocupações.
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