terça-feira, 14 de abril de 2020

ALGUNS NÚMEROS PARA CONTEXTUALIZAR

(Idígoras y Pachi, http://www.elmundo.es)

Abaixo, duas formas diferentes de evidenciar a dimensão das respostas de vários Estados nacionais à crise em curso. Por um lado, para que delas se infira mais em concreto a já conhecida brutalidade do que está em causa (em termos absolutos e relativos). Por outro lado, para que delas se constatem em simultâneo as diferenças entre este e o outro lado do Atlântico, seja quanto à comparabilidade das respostas em presença, quanto à dimensão do recurso a medidas orçamentais diretas versus crédito e garantias ou quanto ao nível de pressão relativa sobre os diversos erários públicos.

E também, obviamente, para que se avalie a justeza do que se tem vindo a referenciar criticamente em relação ao posicionamento da União Europeia no seu conjunto – uns 540 mil milhões para 27 países (noto que só a Alemanha já se lançou num pacote de ajudas correspondente a 1100 mil milhões e registo ainda, pour mémoire, que o PIB dos 27 ascendeu a mais de 13,9 biliões de euros em 2019) e sempre numa base de financiamento puro e duro (com condições ainda a definir, como se irá ver). E mesmo que as Perspetivas Financeiras venham a conhecer uma duplicação das verbas a afetar (de facto, há quem fale de até 2% do PNB do “clube”), o chamado “relançamento” pouco terá de verdadeiramente comunitário, primeiro porque um tal incremento tenderá necessariamente a ser encarado como complementar das grandes estratégias nacionais (que, à primeira vista, poderão até parecer mais dissonantes do que convergentes entre si), depois porque as escolhas finais serão sempre preferencialmente valorizadoras dos interesses mais influentes e das parangonas mais mediáticas do que de uma real preocupação com a respetiva aplicabilidade aos tecidos económicos mais frágeis ou mais atingidos da União.

Em síntese: quantitativamente, é só fazer as contas (como sugeria o nosso Guterres de tempos passados) e, qualitativamente, é só vê-los e ouvi-los a dispararem desordenadamente em todas as direções – mas se estamos notoriamente perante uma sina típica dos pobres, não devemos excluir que venham a cair estilhaços pouco agradáveis sobre os ricos (incluindo no tocante à estabilidade e à durabilidade do próprio processo de construção europeia e da moeda única); entretanto, e enquanto o jogo de forças se vai revelando, fazer o quê que não seja enfrentar o tremendismo dos desafios com dignidade, aguentando de cara alegre e mobilizando uma resistência sem tréguas de todas as forças e competências ao nosso alcance?


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