(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)
Já perdi a conta às vezes que aqui vim anunciar um qualquer dia D para a União Europeia. Sendo que esses dias decisivos, a tender para vitais, já vêm de longe, de muito mais longe do que os do período de vida deste blogue; encontrei, aliás, manifestada evidência disso mesmo nas arrumações históricas que se me tornaram possíveis durante este confinamento (tantos textos e documentos fantásticos que me voltaram a passar pelas mãos!). Sendo ainda que, e não obstante, a amplitude das ameaças em presença vai acontecendo num tal crescendo que aquilo que, de cada vez, é apresentado dramaticamente como um beco sem saída parece tornar-se comparativamente, na vez seguinte, uma quase brincadeira de criança – anos disto não só cansam como não podem durar eternamente, pelo que haverá um dia em que nenhum flic-flac conseguirá esconder a ausência de um sentido comunitário mínimo por parte da maioria das elites europeias da atualidade; esse dia talvez não seja ainda o de amanhã, mas as indecisões de amanhã podem ser o prenúncio da sua irrevogável inevitabilidade a prazo bastante curto.
E com esta me vou, consciente de que não devo repetir-me em relação ao que venho afirmando sobre a matéria em posts passados e assim apenas remetendo os leitores destas linhas para os três recentíssimos e assaz diversos apontamentos que abaixo simplesmente ilustro: os espanhóis a porem em cima da mesa bruxelense a desesperada proposta de um grande fundo de dívida perpétua no valor de 1,5 biliões de euros (com Timmermans a apontá-la como uma boa base para um acordo...), Centeno a vir a terreiro em defesa de uma mutualização de dívida e apelando a que se deixem cair linhas vermelhas nesta Quinta-Feira (afinal os termos que arrancou ao Eurogrupo não terão sido tão promissores quanto então veio proclamar...) e o cronista do Financial Times” Martin Wolf a quase dar por garantido o facto de que a salvação possível do projeto europeu voltará a provir do sacrossanto BCE (ECB to the rescue ou it’s time for ‘whatever it takes’, once again) e de algum cozimento interno mal amanhado e largamente motivado pela única partilha comum aos 27 que designa por “medo de uma rotura ruinosa” (ainda assim, a brutal extensão desta crise, e as consequentes exigências de outros meios para a conjurar, podem não dar razão às razões em que ele se esforça por acreditar...). Esperemos pelo fim de mais uma jornada de uma liga europeia que sem rebuço se mostra cada vez menos ligada!
(cartoon de James Ferguson, http://www.ft.com)
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