sábado, 18 de abril de 2020

DUAS ENTREVISTAS


Mesmo sendo perfeitamente reconhecido que Juncker é hoje um mero aposentado de funções europeias em que foi um protagonista bem intencionado mas nem sempre suficientemente coerente e capaz de impor um rumo (ou mesmo de aguentar barras pesadas), assim como que ele não terá saído da Comissão num quadro de relações muito cordiais com a sua sucessora, a entrevista que ele concedeu esta semana à “Politico” tem importância e merece ser encarada como uma peça a considerar na pequena história deste período de incerteza global e europeia – entre o “não aprendemos nada com a crise do Euro” e o “agora deixamos que o conflito Norte-Sul se incendiasse outra vez sem qualquer necessidade”, os recados são múltiplos e vão todos num mesmo sentido crítico. Já a entrevista de Macron ao “Financial Times” releva de um outro nível de importância ao ser a voz do principal responsável em funções executivas no segundo país com maior peso na União Europeia – e ainda que possamos admitir que a sua ideia de um fundo com capacidade para emitir dívida comum com garantia comum possa esconder algum interesse especificamente franco-francês, o certo é que o seu posicionamento vai claramente na contracorrente de alemães e holandeses e que o seu alerta em relação aos membros do “clube” mais recalcitrantes prima por não omitir um apontar de riscos graves, que estende de modo consequente e sem tergiversações até à possibilidade de um colapso da União Europeia enquanto projeto político.

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