(James Ferguson, http://www.ft.com)
À hora a que escrevo prossegue ainda a reunião virtual do Eurogrupo, desta vez aberta aos ministros das Finanças dos países da União que não fazem parte da Zona Euro. Pelo que o dia 7 não foi, como augurava algo rotineiramente o “Financial Times” numa já interiorizada lógica tipo “Pedro e o Lobo”, um decision day para a Europa. Como não o será o dia 8, quando Centeno e seus pares vierem comunicar o pífio produto das suas prolongadas horas de debate e compromisso pela madrugada dentro.
Mas, perguntarão alguns dos mais desatentos ou desconhecedores destes processos, o que está verdadeiramente em causa? Na essência, a recusa por parte da Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia de um qualquer recurso a uma emissão mutualizada de dívida à escala europeia como sendo a forma adequada de garantir a única relação de financiamento quantidade-preço que poderia permitir a devida resposta conjunta à terrível crise em curso, simultaneamente em termos dos expressivos montantes requeridos por um relançamento económico de escala europeia e em termos de níveis de taxas de juro que evitassem um novo esganamento austeritário nos países da Zona Euro mais frágeis ou mais suscetíveis de serem alvo de ataques especulativos dos mercados. E como argumentam aqueles países? Em síntese, com um “tudo menos isso” (eurobonds), por um lado por temor a desgovernos do Sul e imposição de situações políticas internas complexas mas dominadas pelo crescente peso de forças extremistas e populistas, por outro lado porque fixados (com a Alemanha ao comando) em opções que continuam a assentar em dogmáticos tiros nacionalistas míopes e doentios que talvez um dia lhes venham a sair pela culatra (desde logo, e apenas para primeira impressão, porque a reação italiana lhes pode escapar ao controlo e vir a provocar danos irreparáveis). E, neste quadro, o que contrapõem então eles? Para ser breve, respondo com as infografias (bem esgalhadas, ainda que não totalmente rigorosas em alguns detalhes) que Paulo Portas projetou há dois dias no seu “Estado de Emergência” da TVI, contendo elas as três opções que estarão em cima da mesa e que integram aquilo que Francisco Louçã designa hoje no “Expresso Diário” como a “proposta de Merkel”: um aumento de capital do BEI (25 mil milhões de euros, estimados como capazes de alavancar financiamentos empresariais até 200 mil milhões); empréstimos no quadro do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) extensíveis a um valor até 2% do PIB (240 mil milhões de euros, ficando aqui Portugal limitado a 4) e concedíveis com uma promessa de revisão estatutária e eliminadora de condicionalidades; empréstimos da Comissão Europeia aos Estados para esquemas tipo lay-off e podendo ir até um montante global de 100 mil milhões de euros. Tudo dívida, empresarial e pública, significativa e cara.
Resta dizer, a concluir, que o bloco maioritário é demasiado heterogéneo para que um murro na mesa conjunto possa acontecer e impor um resultado que se veja. Julgo até que alguns se venderão por um prato de lentilhas, digo eu que não costumo ser de intrigas nestas matérias. Sendo ainda que outros já olham para a frente, sonhando por um “Plano Marshall Europeu” que integre os seus tiques e “preferências de estrutura” e os seus interesses mais diretos (estou assaz curioso quanto ao que será o reforço do orçamento comunitário de médio prazo e quanto às gavetas que o virão a compor). Um quadro em que, também aqui, nada será como dantes e em que a Política Regional tenderá a perder o lugar estruturador e equilibrador que lhe foi largamente concedido pela saudosa liderança de Delors e o espaço que nestas décadas lhe permitiu permanecer como uma expressão acantonada da solidariedade restante – mas isto já são contas de outro rosário...
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