segunda-feira, 20 de abril de 2020

UM PAÍS A FUNCIONAR



(As questões da desigualdade no acesso e no usufruir da educação são estruturais e não podem perder-se entre as nossas preocupações de momento. Sabemos até, por via dos trabalhos seminais de Heckman, que quanto mais tarde essas desigualdades forem atenuadas mais irreversível é o efeito futuro sobre os jovens. Mas isso não significa que reconheçamos que, por vezes, o país funciona e tantas vezes me preocupei neste espaço em demonstrar que não funciona.)

Vou tomar minhas as palavras do meu filho Hugo e isso basta-me:

Uma miúda de oito anos nervosa e ansiosa por ver os colegas (e que “dormiu mal preocupada com as novas aulas”); um agrupamento público de escolas com um horário excelente e sensato; uma excelente comunicação com os pais; uma professora inexcedível que garante um início absolutamente integrador, em que todos (mesmo todos, sem qualquer exceção) “sabem uns dos outros” e colocam a máquina a funcionar entre “desliga agora o microfone”; uma tele-escola com um sítio excelente, acessibilidade de meios e aulas bem-pensadas e motivadoras; a possibilidade de uma família mudar rapidamente uma rotina e deixar uma miúda de oito anos novamente entusiasmada com “aprender coisas novas”. Não sei como poderia ter corrido melhor, francamente”.

É óbvio que as condições domésticas não são todas similares e este país a funcionar não tem a mesma perceção ou avaliação consoante essas condições logísticas das famílias.

Mas não é assim que sucede com praticamente todas as áreas da intervenção pública?

Face a estas questões, abomino as inúteis e fúteis polémicas sobre a comemoração do 25 de abril. Claro que teria de haver essa comemoração, com o bom senso do ajustamento ao contexto que vivemos.

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