terça-feira, 21 de abril de 2020

O PERIGO ITALIANO

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

Foi algo despropositada, e quase patética, a incursão de Ursula von der Leyen (UvdL) na infrutífera procura de uma abordagem conjunta do desconfinamento nos diversos países europeus (que já está, aliás, a acontecer lentamente ou que está em preparação consoante os casos), após tudo ter sido até aqui tão nacionalmente comandado nessa matéria. Mas, em bom rigor, tal não passou de um mero fait-divers que serviu ao cartunista do “Le Soir” para um aproveitamento confrontacional jocoso ao seu ex-primeiro-ministro e atual presidente do Conselho (ele que partilhou com UvdL o referido e infeliz momento). Sendo que o tema se torna ainda mais irrelevante quando nos posicionamos neste início da semana em que se vai desenrolar aquela que é por alguns encarada como “a reunião política mais importante que a União Europeia terá tido em anos” (cito Wolfgang Münchau (WM), no seu editorial da “Eurointelligence”, aludindo ao Conselho Europeu do próximo dia 23) – uma ideia que hoje reforça ao começar assim o seu escrito: “esta é a grande semana para a Europa, the high-noon moment”. Acresce também sublinhar aquela que é a tese principal de WM em relação à presente questão europeia, o que ele vem explicitando há tempo na sua coluna do “Financial Times” e expõe de modo cristalino na última (“Italy is in more danger than the eurozone will acknowledge”) ao deixar claro que o ponto central não é o de uma qualquer ameaça de liquidez (como em 2012) mas de toda uma outra natureza relevando da solvência da Itália e das formas de a assumir no quadro europeu e tendo em conta o seu quadro político interno – e o texto termina nessa linha em duas assustadoras girândolas: por um lado, aventando que “há uma apreciação nula na Alemanha e suponho, também na Holanda quanto a um potencialmente catastrófico downside para os seus setores financeiros e as suas economias were Italy to default”; por outro lado, concluindo que “a falência torna-se crescentemente provável se a política excluir alternativas” e que “se e quando isso acontecer, a Zona Euro não estará preparada”. Dá para entender o que pode estar aí ao virar da esquina?


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