sexta-feira, 24 de abril de 2020

NEM FISGA NEM BAZUCA

(cartoon a partir de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)


Desta vez o Conselho Europeu foi curto, o que não significa isento de uma latente conflitualidade e, muito menos, capaz de uma suficiência decisional. No final, António Costa deixou clara a sua síntese, altamente precária ao empurrar para a frente uma avaliação mais definitiva sobre a matéria – a decorrer dos “detalhes” que vierem a constar das propostas que a Comissão ficou encarregada de apresentar ao Conselho até 6 de maio e do que este em cima delas vier a concluir (que o mesmo é dizer sobre as condições em que vai governar a sua e a nossa vida nos difíceis anos próximos).

Escusar-me-ei por ora de entrar em especulações, mesmo que mais ou menos sustentadas, em torno do que pode ou não vir a estar na mesa do Conselho de 6 de maio e, por essa via, das bases que irão determinar o grau de rigidez das posições que por lá se exprimirão; por um lado, porque sobre isso já se conhece o principal e, por outro lado, porque o que é ou poderá vir a ser novidade ainda fará correr tinta que chegue até que se estabilizem as tecnicalidades e os “fundamentais” e, com eles, se possam estabelecer em definitivo as correspondentes derivações e tomadas de posição dos diversos intervenientes em termos de fronteiras e de eventuais linhas vermelhas.

Pelo caminho ficaram, em definitivo, os tão badalados coronabonds, às mãos de uma Angela Merkel que voltou por um lado a exibir a sua autoridade alemã (nein) mas também a fazer uso da sua experiência europeia para pontuar o ritmo do Conselho de ontem, para lhe conferir condições de uma certa neutralização e de um resultado consensual e ainda para conseguir que dele emergisse alguma expectativa positiva para o próximo futuro em função da relativa abertura que se foi permitindo indiciar. Sendo que nada disto interfere com a incontestabilidade do essencial que aqui venho afirmando sobre a Europa e os riscos que sobre ela e a sua moeda única continuarão a adensar-se em termos económicos e políticos por ausência de um rumo estrategicamente claro, consistente e firme de defesa do seu modelo social e de afirmação do seu incontestável potencial.

(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

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