(Dimitris Hantzopoulos, http://www.kathimerini.gr)
Proclamam as notícias, algumas com grande pompa, que o Eurogrupo chegou a acordo à terceira e que assim já volta a haver capacidade financeira para que a Europa enfrente a crise pandémica e os seus efeitos. Não será bem assim, no essencial, como tantos foram explicando por estes dias e aqui também se foi procurando apontar.
Mas o meu ponto de hoje é outro ou, melhor, são outros. O primeiro é o de sublinhar que antes este acordo que nenhum, mesmo se este é fraco, frágil e enganoso (como iremos ver, em termos de austeridade e perda da dimensão coesão que nos era determinante). Talvez que esta seja a sina dos pobres no seio de um clube de ricos e autistas como aquele hoje melhor define a União Europeia. Sim, talvez. Até que um dia o populismo vença seriamente num espaço central do referido clube – e até já não estaremos assim tão longe disso, em França ou na Alemanha p.e. – e algo mude de vez, sabe-se lá em que direção.
O segundo ponto é o da nossa reação política interna. Porque os cidadãos mais conscientes e atentos já não aguentam ouvir tantas “vitórias” arrancadas a ferros, como aquela que Centeno ontem arrancou a holandeses e alemães. Não seria mais bonito, e sobretudo mais decente, mais útil e mais coerente, sustentar uma posição do princípio até ao fim e vir-se então comunicar que apenas se conseguiu um pífio second best? Esta ideia de que a União se faz de noitadas e acordos de última hora, após os quais invariavelmente todos ganham, não é somente uma mentira em que estão viciados os políticos europeus de todos os quadrantes; ela é também, e sobretudo, uma ideia que crescentemente se revelará como muito perigosa para a sobrevivência do projeto europeu e para a própria defesa das sociedades democráticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário