quarta-feira, 22 de abril de 2020

UMA PERGUNTA INCÓMODA

(Finantial Times)


(A Organização Mundial de Saúde vive tempos difíceis. Na maneira como está o mundo, que não se recomenda, não acredito em instituições puras do ponto de vista da sai independência. Daí a ignorar a alarvidade oportunista de Trump, que encontra bodes expiatórios em tudo que mexe à sua volta vai uma grande distância. Suspender a emigração nos EUA e interromper ou bloquear o seu financiamento à OMS são decisões do mesmo foro. Mas talvez fosse conveniente dar uma olhada à estrutura de financiamento desta organização mundial.

O Financial Times Brussels briefing brinda-me bem cedo pela manhã com algumas notas ou notícias sobre temas europeus e mundiais que frequentemente me ajudam a construir representações mais objetivas e melhor justificadas sobre questões sobre as quais a não proximidade física tende a ser fatal.

O gráfico de hoje descreve-nos a estrutura de financiamento da OMS segundo um critério simples e grosseiro de cálculo do peso que cabe a cada país nesse financiamento. Como é óbvio e em bom rigor deveríamos ponderar aquela estrutura de contribuições financeiras seja pela população (veja-se a dimensão demográfica da pandemia nos EUA), seja pela própria dimensão económica dos países. Tal equivaleria a uma perspetiva do gráfico menos distorcida. Mas quando vemos a contribuição da União Europeia e a dimensão da sua barra compreendemos que, embora tenhamos de contar também as contribuições individuais de alguns países como a Alemanha, a debilidade do contributo do bloco União Europeia espanta-nos.

Tal como o FT nos interpela, parece ser tempo da União Europeia, se quer marcar alguma posição e fazer valer as suas perspetivas, entender que este é o momento certo. Se o abandono dos EUA se for concretizado, outros ocuparão esse vazio, tal como o estão a fazer em algumas paragens do mundo em que os americanos deixaram de ser relevantes.

Neste caso, como diz e bem o FT, é tempo de devolver a retórica ao caixote do lixo, digo eu. De facto, podemos andar preocupados com por exemplo o que pode a pandemia do COVID-19 representar para continentes como África ou a América Latina. Ora, não adiantará clamar pelos bons princípios e deixar a OMS à deriva. É claro que o rombo interno é apreciável e vai exigir a reunião de todas as forças para atingir um limiar mínimo de intervenção. Mas se essa for a prioridade então deixem-se de retóricas e não criem ilusões a esses continentes. Até porque se abandonarem a retórica é provável que outros se cheguem à frente, não tão platonicamente e para sossegar consciências, mas com mais vigor de ajuda.

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