(Pequim em 17 de março; Giulia Marchi para o New York Times)
(Três fotografias com a excelência dos fotógrafos do New
York Times para intuir um dos aspetos menos discutidos desta pandemia, o que significa
os países se encontrarem em diferentes estádios da sua evolução, incidência e
efeitos letais. Na economia do desenvolvimento
sempre me interessei pelo significado dos “late comers”, os que chegam mais
tarde ao desenvolvimento. Será que também nesta pandemia, os que passam mais
tarde pela sua incidência também aprendem com o “atraso”?)
Na problemática do
desenvolvimento nunca podemos ignorar, obviamente, o espectro do
desenvolvimento desigual. Temos vindo a aprender essa dura realidade no âmbito da
União Europeia. Apesar de todos os recursos vertidos para as políticas de
coesão, o projeto europeu não consegue integrar dinamicamente nas suas opções o
desenvolvimento desigual. É a fronteira do seu desenvolvimento que comanda. E
as diferentes regras que organizam o aparato burocrático-administrativo da
União deixam por vezes pouca margem de manobra aos países que enfrentam a
mudança estrutural para se aproximarem da tal fronteira que marca a dianteira.
A essa realidade
(estigma para alguns) do desenvolvimento desigual corresponde uma outra que
consiste na possibilidade de utilizar em proveito próprio o progresso técnico que
outros comandam. É a conhecida dialética inovação-difusão. Não a podemos
ignorar é certo. Sobretudo se a entendermos como algo mais amplo do que o
simples acesso a progresso técnico que outros inovam permanentemente. A difusão
não é um processo passivo. Os exemplos melhor sucedidos do aproveitamento dessa
margem de manobra mostram-nos que é um processo bem ativo. Ou seja, existe
investimento e organização para essa difusão. E também sabemos que os que mais
e criativamente investiram nessa proatividade são inequivocamente os casos de “late
comers” melhor sucedidos. A capacidade de aprendizagem e a organização para
dela tirar partido.
Há que ter cautela
com as analogias. Mas a pandemia apresenta-se em diferentes estádios de
evolução do ponto de vista da sua incidência, letalidade e sobrecarga dos sistemas
de saúde. Muitos tiveram tempo que sobra para perceber que “desta vez seria
diferente”, embora todos possamos concordar que o epicentro na China não ajudou
à perceção de ensinamentos e modos de intervir. Uns reagiram mais rapidamente
do que outros, não desdenhando desdizer-se politicamente a uma velocidade estonteante
(caso do Reino Unido, em que o debate futuro sobre a virologia e epidemiologia
britânicas vai ser duro) e mesmo assim já com efeitos devastadores. Outros
reagiram mais tarde (caso de Trump e dos EUA) e temo o pior. Os casos de Itália
e Espanha são mais complexos, ainda não os percebo completamente. E dá a
entender que Portugal esteve como é costume nestas coisas a meio caminho entre
a resposta rápida e a reação lenta.
(Trafalgar Square; Andrew Testa para o NYT)
As três fotografias
que fui buscar à excelência do New York Times mostram-nos como as ruas de
Pequim regressam lentamente ao caos do seu tráfego e Londres (a mítica
Trafalgar onde provavelmente algum de nós já esteve sentado naquele lugar em
que um sem-abrigo aparece representado) e Nova Iorque (com uma imagem
lindíssima de Brooklyn pela qual já passamos seguramente) enfrentam o
isolamento e a devastação.
(Brooklyn; Victor Blue para o NYT)
Os
estádios diferentes em que a pandemia se manifesta tendem como é óbvio a
prolongar a sua incidência à escala global. E na economia global que queremos
ser isso significa um prolongamento do tempo de incidência a que temos de
prestar a devida atenção e, por isso, teremos efeitos de longa gestação no
tempo.
A
questão fundamental é se vamos aprender efetivamente uns com os outros. As
redes de ciência e de investigação científica, tecnológica e clínica à escala
mundial vão ter aqui um papel crucial. Há sinais promissores nessa área, aos
quais se oporão, esperemos que com a devida regulação, os efeitos da
concorrência dura pela tão esperada vacina.
O gráfico diário que o Financial Times elabora ajuda a compreender o alcance dos estádios diferentes:
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