quarta-feira, 15 de abril de 2020

MARIA DE SOUSA



(Uma recordação singela, não de um historiador ou divulgador de ciência, mas tão só de alguém que talvez tenha estado apenas duas vezes com a mulher cientista atingida pela letalidade do coronavírus. Alguém que pela mão do também saudoso Nuno Grande se apercebeu apenas por esses dois momentos que a ciência iria mudar em Portugal e com gente de Muita Excelência.

A proximidade que tive, eu e amigos de tertúlia (Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira já desaparecido, Professor Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras, também desaparecido, Engenheiro Rui Oliveira ainda vivo, Engenheiro Manuel Miranda também ainda em atividade) com o Professor Nuno Grande nos tempos da emergência do projeto então inovador do Instituto de Biomédicas Abel Salazar constituirá para sempre um dos períodos mais pessoalmente retribuidores para um economista que se iniciava em roteiros da heterodoxia.

A personalidade empática do Nuno Grande e a sua proximidade a gente brilhante (recordo também nesse âmbito o Professor Corino de Andrade) abriram-nos o conhecimento a novas tendências que só algum tempo mais tarde haveriam de transformar-se em momentos de grande mudança na sociedade e na ciência portuguesa.

Uma dessas personalidades que em um ou talvez dois contactos-encontros nos fascinou foi a cientista Maria de Sousa que haveria de pertencer aos quadros do jovem Instituto, que nascia com uma outra conceção da medicina e que a integração no sistema haveria de fazer empalidecer, não em termos de excelência, mas de modelo e projeto. O discurso de Maria de Sousa era magnético, anunciava um período notável de progressão da ciência portuguesa. O ministro da Ciência e Ensino Superior Manuel Heitor e outras personalidades marcantes da ciência português acentuaram-no hoje em obituários marcantes do vulto que o coronavírus e uma idade avançada nos retiram.

Não tenho matéria e informação que justifique um pronunciamento dessa natureza. Escrevo apenas para assinalar que nesses dois momentos de contacto que a proximidade com o Nuno Grande nos proporcionou percebi talvez antes de muita gente que a Ciência em Portugal iria mudar. Afinal seguindo um modelo que viria a repetir-se pelo menos por algum tempo: inteligência e talento nacional que tem de ir aos centros de conhecimento desse mundo fora buscar novo conhecimento e reconhecimento de excelência para mudar as coisas cá dentro.

A Professora merecia que nos tivéssemos despedido com uma outra emoção coletivamente vivida. O vírus roubou-nos também essa possibilidade.

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