(Uma recordação singela, não de um historiador ou
divulgador de ciência, mas tão só de alguém que talvez tenha estado apenas duas
vezes com a mulher cientista atingida pela letalidade do coronavírus. Alguém que pela mão do também saudoso Nuno Grande se apercebeu apenas por
esses dois momentos que a ciência iria mudar em Portugal e com gente de Muita
Excelência.
A proximidade que
tive, eu e amigos de tertúlia (Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira já desaparecido,
Professor Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras, também desaparecido, Engenheiro
Rui Oliveira ainda vivo, Engenheiro Manuel Miranda também ainda em atividade) com
o Professor Nuno Grande nos tempos da emergência do projeto então inovador do
Instituto de Biomédicas Abel Salazar constituirá para sempre um dos períodos
mais pessoalmente retribuidores para um economista que se iniciava em roteiros
da heterodoxia.
A personalidade empática
do Nuno Grande e a sua proximidade a gente brilhante (recordo também nesse
âmbito o Professor Corino de Andrade) abriram-nos o conhecimento a novas
tendências que só algum tempo mais tarde haveriam de transformar-se em momentos
de grande mudança na sociedade e na ciência portuguesa.
Uma dessas
personalidades que em um ou talvez dois contactos-encontros nos fascinou foi a
cientista Maria de Sousa que haveria de pertencer aos quadros do jovem
Instituto, que nascia com uma outra conceção da medicina e que a integração no
sistema haveria de fazer empalidecer, não em termos de excelência, mas de modelo
e projeto. O discurso de Maria de Sousa era magnético, anunciava um período
notável de progressão da ciência portuguesa. O ministro da Ciência e Ensino
Superior Manuel Heitor e outras personalidades marcantes da ciência português acentuaram-no
hoje em obituários marcantes do vulto que o coronavírus e uma idade avançada
nos retiram.
Não tenho matéria e
informação que justifique um pronunciamento dessa natureza. Escrevo apenas para
assinalar que nesses dois momentos de contacto que a proximidade com o Nuno
Grande nos proporcionou percebi talvez antes de muita gente que a Ciência em
Portugal iria mudar. Afinal seguindo um modelo que viria a repetir-se pelo
menos por algum tempo: inteligência e talento nacional que tem de ir aos
centros de conhecimento desse mundo fora buscar novo conhecimento e
reconhecimento de excelência para mudar as coisas cá dentro.
A Professora merecia
que nos tivéssemos despedido com uma outra emoção coletivamente vivida. O vírus
roubou-nos também essa possibilidade.
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