quarta-feira, 1 de abril de 2020

TESTEMUNHOS (4)

(Hospital de campanha em Londres)


(Foco-me na abordagem do governo britânico à pandemia. Moral da história: estratégias erráticas podem se fatais.)

Até agora temos referenciado abordagens reativas em tempo ajustado ou atrasadas no tempo, revelando-se as últimas fortemente penalizadoras em termos de letalidade.

Mas há também as estratégias erráticas. Para já o melhor exemplo é o do Reino Unido. Aqui ficam dois testemunhos sobre essa perigosa oscilação britânica.

Simon Wren-Lewis no MAINLY MACRO (EXCERTO) (link aqui):

“(…) Será que o governo seguiu a ciência? De certo modo essa questão é irrelevante. Como Ben Chu sugere, tratar uma pandemia não implica socorrer-se de uma ciência na qual as questões estão bem formuladas e são conhecidas com uma quase certeza. Nenhum cientista desejaria parar um governo, depois de conhecer os primeiros casos do COVID-19 no Reino Unido em meados de Fevereiro, distribuindo equipamento de proteção aos médicos, encomendando novos ventiladores e promovendo a capacidade de realização de testes. O facto disso não ter acontecido senão em meados de Março é, como a Lancet sugere, um escândalo nacional”.

Revista Lancet (link aqui)

“Quando isto tudo acabar, toda a Direção do Sistema Nacional de Saúde inglês deve demitir-se”. Assim escreveu um trabalhador do SNS no ultimo fim de semana. A dimensão da fúria e da frustração não tem precedentes e a doença do COVID-19 é a razão. A estratégia do Governo britânico de “Conter-Atrasar-Mitigar-Investigar” falhou. Falhou em parte porque não seguiu o conselho da ONS “testar, testar, testar” qualquer caso suspeito. Não promoveram o isolamento e a quarentena. Não seguiram o rasto dos casos. Estes princípios básicos de saúde pública e de controlo de doenças infecciosas foram ignorados, por razões que permanecem opacas. O Reino Unido tem agora um novo plano – Suprimir – Proteger–Tratar–Minimizar. Mas este plano, assumido demasiado tarde durante o surto, deixou o SNS globalmente impreparado para a emergência de doentes em situações críticas e severas que estão aí a chegar.”

Moral da história para apreciação futura: estratégias erráticas são tão penalizadoras como as não estratégias ou as estratégias atrasadas.

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